04 jun, 2023 • José Bastos
Na semana em que o INE divulgou a estimativa rápida que coloca o PIB a crescer 2,5% nos primeiros três meses do ano e a inflação a abrandar para os 4% em maio, na avaliação do ministro da Economia há indicadores sugerindo que a economia pode crescer 3% em 2023.
Na entrevista à Renascença, António Costa Silva reconhece que uma possível recessão na Alemanha pode condicionar a previsão, mas a sua aposta é de um crescimento económico de 3%, ou superando até essa meta, assumindo ser esse um resultado magnífico.
Marcando a semana económica, as declarações do ministro à Renascença adensam ainda mais um fenómeno de análise algo complexa. A economia portuguesa apresenta indicadores conjunturais positivos: inflação controlada, exportações em alta e desemprego a descer. Mas não há como negar uma crise de rendimentos a afetar, não apenas os mais desfavorecidos mas a classe média asfixiada pelo aumento dos preços, juros dos empréstimos da habitação e pressão crescente da carga fiscal.
Como se explica esta aparente contradição? É o modelo de crescimento económico que precisa de ser alterado? Um dos debates incontornáveis é o do turismo a regressar em força para ser o acelerador económico do ano, em particular neste verão. Vamos ter de refletir num modelo assente em baixos salários e reduzido valor acrescentado, mas a favorecer a arrecadação fiscal do Estado? E a produtividade?
Porque razão as estatísticas risonhas, positivas e geradoras de confiança escondem uma realidade social complexa de salários baixos com, por exemplo, o mercado habitacional deslocado da realidade? O governo destaca os indicadores económicos, mas, como já observou o PR, os resultados tardam a chegar aos cidadãos. Como se contraria o empobrecimento crescente da classe média?
A análise é de Nuno Botelho, líder da ACP – Câmara de Comércio e Indústria, Eduardo Baptista Correia, gestor e professor universitário e Manuel Carvalho da Silva, sociólogo, professor da Universidade de Coimbra a olharem também para Espanha.