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Aura Miguel
Opinião de Aura Miguel
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​Um cardeal afetuoso e amigo de Portugal

28 mai, 2022 • Opinião de Aura Miguel


A Renascença entrevistou-o em diversas ocasiões e várias vezes demonstrou ser muito amigo de Portugal. Foi a voz do momento inesquecível em que JPII lhe pediu para levantar o véu do terceiro segredo de Fátima.

Tive o privilegio de conhecer o cardeal Angelo Sodano, não só enquanto Secretário de Estado, entre 1991 e 2006, mas também quando passou a decano do colégio cardinalício, cargo que exerceu até 2019.

Com a sua grande experiência diplomática ao serviço da Santa Sé, tornou-se um homem-chave em questões delicadas entre Estados e outros conflitos e situações de guerra. Ainda antes de ser cardeal foi um brilhante mediador diplomático no diferendo sobre o estreito de Beagle que opôs o Chile à Argentina.

Várias vezes demonstrou ser muito amigo de Portugal, elogiando a gesta missionária dos portugueses no mundo. Apoiou a presença no Vaticano da Exposição ”Cinco séculos de evangelização e encontro de culturas”, seguiu de perto a questão de Timor leste e foi ele o negociador da mais recente revisão da nossa Concordata.

A Renascença entrevistou-o em diversas ocasiões, não só no Vaticano. Lembro-me, por exemplo, de Calcutá no funeral de Madre Teresa, em que participou como enviado do Papa. Também recordo os meus frequentes pedidos, a bordo do avião papal ou durante alguma pausa nas visitas de João Paulo II pelo mundo fora, para conseguir umas breves declarações sobre a situação em Timor-Leste, quase sempre com sucesso. Na verdade, a minha insistência deve ter sido tanta que, anos mais tarde, em que o assunto já não era notícia, o cardeal Sodano veio ter comigo e perguntou-se com ar jocoso: “Então, não me pergunta nada sobre Timor?”

Já na qualidade de cardeal decano, encontrámo-nos na cidade do Karaganda, no Casaquistão, para a sagração de uma Igreja dedicada a N. Sra. de Fátima. Mostrou-se sempre muito afável e disponível, sobretudo na última vez, em 2017, quando me recebeu no seu gabinete dentro das muralhas do Vaticano, para testemunhar o momento inesquecível em que JPII lhe pediu para levantar o véu do terceiro segredo, no final da missa que o Papa celebrou a 13 de maio do ano 2000.

Nessa última vez, antes de se despedir, ofereceu-me uma bonita pasta de papel, encadernada a verde e ouro, onde tinha guardado as suas folhas com as anotações para a entrevista.

Uma recordação que guardo com afeto.

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