Senhor, faço-te um estranho pedido: que me seja concedido um minuto inteiro,
um minuto de 60 segundos completos cal-ma-men-te contados!...
Quero libertar-me da sofreguidão, a fim de poder apreciar um instante, sentir o
odor das flores, ouvir a suavidade das aves, olhar a pequena nuvem branca
que espreita no céu e compreender a notícia que a rádio dá a correr.
Quero ouvir, até ao fim, a canção que está no ar, sem que me pressionem a
pensar no som que há-de chegar «já a seguir» ou dois minutos depois.
Quero que as vozes respirem, tenham dúvidas e reticências, sem que os
computadores eliminem as pausas.
Quero que as palavras não sejam apenas um corpo ruidoso; mas que tenham
alma, sentido, cheiro, transcendência...
Quero vozes que tenham rosto, ainda que invisível. Que falem para mim,
mesmo que me desconheçam. E falem como se quisessem ouvir-me, ainda
que sabendo-me distante e silencioso...
Quero, Senhor, neste minuto completo que Te peço, sentir-me... humano!...