24 dez, 2019
Uma onda de pessimismo percorre grande parte do mundo. Claro que noutras ocasiões as trevas eram mais densas: basta pensar que a primeira metade do séc. XX contou com duas terríveis guerras mundiais e a desgraça da grande depressão económica dos anos 30. Isto, a par com a emergência dos totalitarismos, o nazi (que produziu o impensável holocausto) e o soviético, que matou ainda mais gente.
Agora muitas pessoas estão frustradas porque o seu bem-estar económico já não melhora como dantes, prevendo-se que as próximas gerações viverão pior do que os pais. E as desigualdades crescem, escandalosamente. Apesar da sucessão de eventos climáticos extremos, a maioria dos políticos não mostra coragem para lhes dar uma resposta eficaz, o que reforça a perda de confiança das pessoas na classe política.
O individualismo egoísta ergue muros para não deixar entrar refugiados e imigrantes. E o relativismo ético leva a que todos os valores, ou anti-valores, tenham apenas a ver com “sentir-se bem consigo próprio”. Defende-se o aborto, como se não estivessem vidas indefesas em causa. Entretanto, regressam autoritarismos políticos que se julgariam ultrapassados. O próprio Natal parece, nas nossas cidades, um mero evento comercial, uma gigantesca manifestação de consumismo.
Mas, apesar deste nevoeiro pessimista, o Natal abre uma brecha de acesso à verdadeira alegria. Mesmo na ânsia dos presentes e das “boas festas”, ele chama a atenção para os outros, sobretudo os que sofrem. Para os crentes, mas também para os não crentes de boa vontade, o Natal apela à solidariedade humana.
O mundo tem dificuldade em aceitar este mistério, mas o nascimento humilde e pobre de Jesus revela um Deus que tomou a condição humana e que, como tal, aceitou a sua morte “e morte de cruz”, como lembra S. Paulo. A “fraqueza” de Cristo é a força do Natal.