Fórmula 1

30 anos da morte de Ayrton Senna. "Perdemos o melhor de todos os tempos"

01 mai, 2024 - 09:05 • Eduardo Soares da Silva

1 de maio de 1994. Ímola, Grande Prémio de San Marino. Esta quarta-feira, completam-se 30 anos da morte do icónico piloto brasileiro, que não resistiu a um choque frontal durante a corrida. Pedro Lamy, o piloto português que privou com Senna, recorda um dos fins-de-semana mais negros da história da Fórmula 1. (A Renascença republica este artigo de 1 de maio de 2019)

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*A Renascença recupera este artigo publicado a 1 de maio de 2019, por ocasião do 25.º aniversário da morte do piloto brasileiro, alterando apenas para "30 anos” no texto.

Ayrton Senna era piloto de culto da Fórmula 1. Faleceu aos 34 anos, no dia 1 de maio de 1994, em Ímola, no Grande Prémio do San Marino, depois de três títulos de campeão do mundo, 41 corridas vencidas, 65 "pole positions", 19 voltas mais rápidas, 2982 voltas na liderança, num total de 161 Grandes Prémios disputados. Completam-se, esta quarta-feira, 30 anos de um dos fins-de-semana mais negros da história da Fórmula 1. A Renascença conversou com Pedro Lamy, o primeiro piloto português a amealhar pontos na mais importante prova do mundo de automobilismo, que esteve na corrida em Ímola, nesse mesmo domigo.

Ao percorrer os pergaminhos da carreira de Ayrton Senna, é impossível não realçar a profunda ligação com Portugal. Sócio do Belenenses e residente em Portugal, a primeira vitória da carreira foi em solo luso, no Estoril, no Grande Prémio de Portugal, em 1985. Três anos depois, venceu o primeiro título de campeão, ao volante de um McLaren. Em 1990 e 1991 repetiu a façanha

Pedro Lamy recorda um fim-de-semana difícil em San Marino. No sábado, faleceu o austríaco Roland Ratzenberger, na qualificação, um choque resultante da perda da asa dianteira. No domingo, a corrida começou da pior forma para o na altura jovem piloto português, na sua temporada de estreia na Fórmula 1.

"Foi um fim-de-semana de pesadelo, só queríamos acordar e passar a página. Foi uma realidade infeliz. Aconteceu de tudo nesses dias. Perdemos dois colegas, houve muitos acidentes, o meu, o Barrichello, o Belmondo, entre outros problemas. Foram coisas muito estranhas e que não se viam há muito tempo. Parece que Deus quis acordar os meninos da Fórmula 1 para se mudarem algumas coisas, e a verdade é que as coisas têm mudado. Hoje em dia, temos uma Fórmula 1 muito mais segura. Há sempre risco, como é natural no automobilismo, mas é bem mais seguro hoje em dia", começa por dizer o atual piloto de 47 anos.

Antes de Ratzenberger e Senna, foram oito anos sem qualquer fatalidade no mundo da Fórmula 1, desde o italiano Elio de Angelis, em 1986, em testes em Marselha, no circuito Paul Ricard.

Os choques de Lammy e Senna

Lamy foi protagonista do primeiro acidente da corrida, logo nos instantes iniciais. Na partida, Lamy tentou a ultrapassagem, com a visão limitada, e chocou contra a traseira do carro de J.J. Letho, que não tinha arrancado por um problema no motor. O choque resultou em vários destroços espalhados pela pista, o que obrigou à entrada do "safety car", que implica que os carros a mantenham a posição, numa velocidade reduzida. À passagem da quinta volta, o "safety car" voltou às "boxes" e os carros retomaram a corrida, com os pneus mais frios.

No início a sexta volta - na prática, a primeira da corrida -, Senna choca diretamente contra o muro, na curva Tamburello, a cerca de 210 km/h, acidente que resultou na morte instantânea do brasileiro, com um pedaço da suspensão a perfurar o capacete do piloto. Pedro Lamy, que já assistia à corrida das "boxes", admite que não esperava que Ayrton não fosse resistir ao choque.

"Tudo aconteceu muito rápido. Eu bati logo na partida, sem ângulo de visão. Estava nas 'boxes' a recuperar do acidente, depois de ter desistido. Estava a ver a corrida, naqueles que seriam os últimos passos desse fim-de-semana. Vi o 'safety car' a sair e foi logo a seguir o acidente. Percebi que era um acidente grave, porque a velocidade era realmente muito alta, mas esperava que fosse conseguir sair bem, mas a coisa complicou-se. Foi terrível", recorda o piloto.

"Tive de me beliscar para acreditar que estava a falar com o Ayrton Senna"

Apesar da diferença de idades, Ayrton Senna tinha ajudado o jovem piloto português nos seus primeiros passos na F1: "Tínhamos uma relação muito boa. Ele vivia em Portugal, era muito amigo do Domingos Piedade, que nos apresentou. O Ayrton ajudou-me até nas negociações de contrato com a Lotus, logo quando entrei na Fórmula 1. Antes de me sentar pela primeira vez num carro de Fórmula 1, ele deu-me imensas dicas", diz a Bola Branca.

Lamy recorda que mal conseguia acredita que convivia com um dos ídolos. "Quando falei com ele pela primeira vez, uma longa chamada ao telemóvel, nem acreditava que estava a falar com o Ayrton Senna. Tive de me beliscar para acordar. Ele era uma pessoa próxima, sempre me quis ajudar, foi pena termos tido tão pouco tempo. Convivemos oito Grande Prémios, desde o dia que entrei, até ao dia que ele faleceu. Passou muito rápido, a vida passa a correr e foi uma pena não ter estado mais tempo com ele".

Curiosamente, Ayrton Senna tinha protestado a realização da corrida, devido ao acidente de sexta-feira de Barrichello e a morte de Ratzenberger. Senna levava consigo no monolugar uma bandeira da Áustria, para homenagear o falecido colega de profissão.

A memória do "melhor piloto de sempre"

Lamy, que competiu na Fórmula 1 entre 1993 e 1996, recorda as primeiras conversas com o piloto brasileiro. "Ele explicava-me ao pormenor o que precisava de fazer, ajudava-me na travagem. Foi muito gratificante para mim receber aqueles conselhos, era muito jovem, tinha só 2 1anos. Guardo esses momentos com muito carinho, é uma recordação que vou guardar para sempre. Já lá vão 25 anos e lembro-me como se fosse ontem".

Na opinião do piloto português, Senna é o "melhor piloto da história do automobilismo" e explica porquê: "Era um mito, sobredotado, trabalhador e só tinha um foco na vida, que era vencer. Inspirava qualquer piloto. Era do pilotos mais bem preparados físicamente, levava sempre o carro ao limite. Reparava em todos os pormenores e era muito rápido, também teve sempre a capacidade de reunir os melhores engenheiros à sua volta para estar sempre no melhor. Era mágico vê-lo guiar".

Comentários
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  • Maria
    01 mai, 2024 Palmela 10:58
    Parece que foi ontem!

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