Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Luzes e sombras na economia

13 jun, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A dívida pública portuguesa agora paga juros muito baixos. Mas o Banco de Portugal confirma o abrandamento da nossa economia e riscos nas contas externas.

A emissão, ontem, de títulos da dívida pública portuguesa a longo prazo foi um sucesso. A dez anos foram colocados 625 milhões de euros pagando um juro tão baixo como nunca antes acontecera: 0,6%. Foi a primeira vez que Portugal pagou, em dívida a dez anos, menos do que 1%. Ainda no início do corrente ano o juro fora de quase 2%.

Ontem Portugal emitiu também dívida a 15 anos, pagando 1,6%, contra 2% numa emissão em maio. Neste momento há uma forte apetência dos investidores por dívida soberana, dos Estados, numa altura em que a economia europeia dá sinais de abrandamento.
Abrandamento que também envolve a nossa economia, como ontem confirmou o Banco de Portugal. A confiança que os mercados agora depositam na capacidade de o nosso país cumprir os seus compromissos financeiros pode não durar sempre, por erro nosso ou por circunstâncias internacionais que não controlamos. Daí a importância de acompanhar atentamente a conjuntura económica portuguesa.
Afirma o Banco de Portugal que mudou o modelo de crescimento da nossa economia. O motor de um crescimento que abranda é e continuará a ser a procura interna e já não as exportações. Não é uma mudança saudável.
O défice que mais importa, no caso português, nem é o das contas do Estado – é o das contas externas. Ora a balança comercial vai voltar a registar défice no corrente ano e nos próximos dois anos. O saldo da balança corrente e de capital (principal indicador para as contas externas) só não ficará negativo até 2021 por causa dos juros baixos (se assim continuarem) e dos dinheiros de Bruxelas. “Mas o saldo é cada vez menos excedentário”. O que seria se não houvesse o “boom” do turismo…
Com uma dívida externa da dimensão da portuguesa, esta tendência “constitui uma das principais vulnerabilidades latentes” da nossa situação económica, alerta o Banco de Portugal. Convém lembrar, ainda, que o PIB por cabeça em Portugal chegará perto de 60% da média da zona euro em 2011, ficando ainda ligeiramente abaixo do valor de há vinte anos.
O principal aviso do Banco de Portugal é o de que o défice da balança comercial não representa necessariamente um regresso ao crescimento da dívida. Para isso, porém, é necessário que o consumo não seja exagerado e que o investimento não só cresça como se revele de qualidade. O passado não é animador quanto a este ponto fulcral.



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