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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Ódio e supremacia branca

18 mar, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O mais absurdo é haver quem invoque a defesa do cristianismo para não admitir a entrada de imigrantes e refugiados, uma ideia radicalmente oposta aos valores de Jesus Cristo.

Perante o massacre de muçulmanos que rezavam em mesquitas na Nova Zelândia, país tolerante e pacífico, é natural que pensemos que um tal crime só pode ter como autor um louco. Mas não é verdade, infelizmente.

Quem, há cem anos, julgaria possível que, num país tão civilizado como a Alemanha, os nazis em plena guerra II guerra mundial concebessem e concretizassem o Holocausto? Vários desses nazis eram, até, pessoas cultas, não eram débeis mentais...

Em 2011 aconteceu a matança de 77 jovens socialistas na Noruega por um neonazi, Breivik. Esse homem não era nem é um demente – é um promotor de ódio, que parece ter sabido antecipadamente do massacre na Nova Zelândia.

O assassino da Nova Zelândia é um australiano, Brenton Torrant, que se terá radicalizado no seu ódio aos islâmicos durante uma viagem à Europa, incluindo Portugal, em 2017. Presumivelmente terá tido então contactos com pessoas e organizações de extrema- direita.

Torrant é também um admirador dos movimentos de ódio aos muçulmanos nos Estados Unidos. Segundo o diário britânico “Guardian”, os defensores da supremacia dos brancos nos EUA mataram mais gente do que qualquer outro grupo extremista desde os atentados de setembro de 2001.

Trump condenou o massacre da Nova Zelândia, mas quando lhe perguntaram se receava o extremismo anti-islâmico dos nacionalistas brancos, disse que não, porque esse era um pequeno grupo de pessoas. Não disse que esse grupo faz parte dos seus mais ardentes apoiantes.

O país natal de Torrant é a Austrália, uma terra de imigrantes (durante muito tempo era para ali que os tribunais britânicos enviavam criminosos condenados), que não tratou particularmente bem os aborígenes locais. Mas onde existem políticos ferozmente hostis a mais imigrantes, sobretudo muçulmanos.

Como se sabe, vários países da UE opõem-se totalmente a receber um imigrante ou um refugiado que seja. Na Europa, como nos EUA e na Austrália, há a ideia de que os “países brancos” estão a ser invadidos por uma multidão de estrangeiros de outras cores e culturas. Mas essa ideia é falsa. Lia-se no “Público” de sábado que, segundo uma sondagem, “os australianos acreditam que há seis vezes mais muçulmanos no país do que aquilo que os números mostram – em 2016 havia 604 200 muçulmanos na Austrália, ou 2,6% da população, mas a maioria dos inquiridos coloca esse valor nos 17%”.

Note-se que a hostilidade aos islâmicos coincide, hoje, com um reavivar, na Europa, de sentimentos e ataques anti-semitas. No fundo, é o ódio que alastra, envenenando a política e a vida em sociedade, ódio destruidor que também esteve presente no sábado, nos Campos Elísios, em Paris.

Porventura o mais absurdo e escandaloso é haver quem invoque a defesa do cristianismo para não admitir a entrada de refugiados. É o caso de V. Orbán, primeiro-ministro da Hungria, país que, tal como a Polónia e a Itália (com Salvini), fecham a porta a imigrantes. Não se dará conta Orbán de que tal atitude é radicalmente oposta aos valores de Jesus Cristo?

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