31 out, 2018
Os membros do Parlamento Europeu (PE) começaram por ser designados pelos parlamentos nacionais. Desde 1979, porém, são eleitos por sufrágio universal e direto nos vários Estados-membros – os eleitores de cada um deles votam nos deputados nacionais que querem enviar para Estrasburgo e Bruxelas. Só que a abstenção subiu ininterruptamente desde então. E nas campanhas eleitorais para o PE têm-se discutido sobretudo assuntos de política interna e o voto frequentemente dependeu de considerações nacionais e não europeias. Há motivos, no entanto, para que a abstenção nas eleições para o PE recue na próxima votação, em maio de 2019. E para que se fale mais do projeto europeu.
É que os partidos populistas e eurocéticos, alguns no governo, outros na oposição, querem “conquistar” o PE e, a partir daí, mudar as regras europeias. Salvini, o verdadeiro líder do governo italiano, agora em aberto conflito com a Comissão Europeia, já explicitou essa estratégia, que tem o apoio do ideólogo e ex-colaborador de Trump, Steve Bannon, o qual, por sua vez, está muito ligado à fação da Igreja católica que hostiliza o Papa Francisco.
Multiplicam-se as crises na integração europeia. O previsto fim da carreira política de Angela Merkel é mais uma fonte de preocupação para a UE, pois se trata de alguém com peso político (embora um tanto diminuído nos últimos tempos) e uma europeísta convicta.
O Presidente da República procurou, na segunda-feira, acordar a classe política nacional para a urgência de se preparar para o debate europeu. Marcelo reconheceu que, em Portugal, continua a haver um amplo apoio social, económico e político ao projeto europeu. Mas disse, também, que há hoje, numa base fundamental desse projeto, “fragilidades a nível nacional”. Basta recordar os sistemáticos ataques do PCP e, em menor grau, do BE à “ditadura” de Bruxelas (palavras minhas, não do Presidente).
Marcelo Rebelo de Sousa apelou à responsabilidade dos que acreditam na Europa. “Têm, desde logo, a nível nacional, de ter outro dinamismo, de ter outra capacidade de chegar às pessoas, de ter outra proximidade em relação ao povo, para que o projeto europeu possa continuar e continuar com mais força”.
Veremos se o apelo europeu do Presidente da República é ouvido entre nós.