07 out, 2018 • José Bastos
O tradicional bipartidarismo dominado pelo PSDB e PT, a marcar as últimas décadas pós-militares no Brasil, é agora desalojado por uma polarização extrema: de um lado o bloco anti PT, do outro o campo anti Bolsonaro.
O fenómeno varre do radar eleitoral o centrão político, território de todos os entendimentos (Ciro, Alckmin, Marina) numa disputa em que os extremos esmagam: Bolsonaro e Haddad são os preferidos, mas também são os candidatos mais rejeitados.
Uma sociedade profundamente insatisfeita com o regime político, acossada pela insegurança nas ruas, uma economia débil e com dezenas de políticos (incluindo o mais popular do país, Lula da Silva) na cadeia, condenados por corrupção, é a que vai votar na primeira volta das presidenciais, a primeira eleição desde que a operação “Lava jato” sinalizou esquemas de corrupção gigantescos que afetam todos os quadrantes políticos.
Na economia, Bolsonaro reconhece "saber pouco" e coloca toda a responsabilidade de definição de políticas em Paulo Guedes, um liberal formado em Chicago, o preferido dos investidores, com promessas de liberalização laboral, privatizações e pulso firme na divida pública.
Já Haddad não tem como prioridade alterar a política orçamental e mantém o essencial da linha do PT, defendendo a aposta no consumo interno como meio de crescimento da economia.
Mas após semanas com intenções de voto estacionadas na casa dos 30%, Jair Bolsonaro disparou na última semana, aproximando-se dos 40%, assumindo a posição de grande favorito. Apesar da queda, Fernando Haddad tem ainda hipóteses de passar à segunda volta de 28 de outubro?
É com este pano de fundo que Nuno Botelho, Luís Aguiar-Conraria e Manuel Carvalho da Silva irão analisar as presidenciais brasileiras, a possibilidade de tudo ficar decidido este domingo já com uma vitória de Bolsonaro e, ainda, que erros de PT e PSDB permitiram a criação do caldo social marcado pela rejeição à política tradicional e pela visão mais punitiva sobre o combate à criminalidade a alimenta o ex-capitão do exército brasileiro, deixando de lado questões como a estagnação económica, desemprego ou a melhoria da saúde e educação.
Neste Conversas Cruzadas ainda um olhar para a agenda doméstica: em ano eleitoral, Orçamento do Estados para 2019 com tudo para todos, menos para as empresas?