José Miguel Sardica
Opinião de José Miguel Sardica
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Opinião de José Miguel Sardica

A esquerda vai ao campo

25 jul, 2018 • Opinião de José Miguel Sardica


Entre os workshops, o destaque tem de ir para o que se intitula “Desconstrução da masculinidade tóxica” (sic!). Leram bem as três palavras: “Desconstrução”, “masculinidade” e “tóxica”. Gostava realmente de conhecer o conteúdo doutrinal desta educativa palestra.

Começa hoje mais um "Acampamento Liberdade", o campo de verão organizado pelo Bloco de Esquerda para os seus jovens militantes ou simpatizantes. Tendo lido algumas referências dispersas sobre o seu programa, fui pesquisá-lo na net para confirmar as minhas piores suspeitas. Vale a pena o leitor curioso fazer o mesmo. Aquilo pode ser um convívio de jovens; mas é, sobretudo, um campo de doutrinação para as maiores excentricidades ideológicas fraturantes que hoje imperam.

Durante quase cinco dias, haverá concertos e festas, com “samba de guerrilha” e celebrações “antirracistas”, “feministas” e “queer”, antecedidos de conferências e workshops. Entre os temas daquelas há alguns risíveis, outros crípticos e outros assustadores: “Direito a uma vida independente”, “Legalizar (e regulamentar!) todas as drogas” (sic), “A propriedade é o roubo: debate sobre a socialização dos meios de produção” (sic), “Direito à boémia: necessidade de vida noturna para produção e radicalização cultural” (sic), “Linguística e linguagem inclusiva” ou “Desobediência civil: como, porquê e para quê”. Entre os workshops, o destaque tem de ir para o que se intitula “Desconstrução da masculinidade tóxica” (sic!)

Leram bem as três palavras: “Desconstrução”, “masculinidade” e “tóxica”. Gostava realmente de conhecer o conteúdo doutrinal desta educativa palestra. A minha perplexidade abunda. A masculinidade é tóxica? Toda ela? É o heterossexual branco o inimigo a abater ou qualquer homem? E dentro do heterossexual branco, o alvo será apenas o machista que alegadamente comete ou deseja violência de género sobre as mulheres? Em que consiste a sua toxicidade? Quão tóxico é ele para precisar - na ótica do BE - do corretivo da desconstrução? E como opera esta? Denunciando, perseguindo, estigmatizando, prendendo ou exilando o (mau) homem “tóxico”? Ou reeducando-o, para que ele veja a luz e se liberte da toxicidade inerente à sua condição de macho? Imagine o leitor a reação do BE se alguém, num colóquio, na imprensa ou num acampamento de jovens decidisse reivindicar a desconstrução, também por suposta toxicidade, da homossexualidade, do feminismo ou do transgénero... Lá viriam os iluminados berrar contra a homofobia, o patriarcalismo ou o marialvismo!

Há desigualdade e violência entre homens e mulheres, entre heterossexuais e homossexuais, entre raças, etnias, comunidades e estilos de vida? Sem dúvida. Acontece que há culpados e inocentes em todos os lados - até em lados que, de forma hipócrita, o BE não gosta de reconhecer. Há dias, um casal de rapazes homossexual foi espancado em Coimbra. A notícia depressa desapareceu, pela inconveniência de revelar que os agressores eram ciganos. A homofobia ou a violência dos ciganos (ou dos muçulmanos) sobre as suas mulheres e filhas é tradição cultural; o piropo do heterossexual branco vai a caminho de se tornar um crime! Eis o padrão moral do BE.

O que é preciso “desconstruir” não é a masculinidade, porque a violência de género não é só uma propensão de alguns homens brancos; é um problema de pessoas moralmente mal formadas, transversal a todas as sexualidades, raças e povos. O que é necessário desconstruir é esta “tolerância” intolerante do BE. E o que é urgente reificar é a distinção entre o bem e o mal, o que se pode fazer e o que não se pode fazer, porque maltratar o outro, seja no plano sexual, seja em qualquer outro plano, é um delito infelizmente generalizado – e não uma culpa tóxica da masculinidade. Por isso, aos jovens do Bloco de Esquerda recomendo: divirtam-se no campo, mas deixem lá a masculinidade, e já agora a propriedade e a linguagem, em paz!

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    26 jul, 2018 TERRADOMEIO 20:57
    Inspiradíssimo, hoje! E com razão nalguns pontos, como seja a bizarra flexibilidade perante supostos cânones culturais... Mas estranho a abundância da perplexidade, com certeza tem acesso e conhecimento de estatísticas objectivas sobre o género a que pertencem a grande, grande, grande maioria dos mortos e feridos da tal "guerra dos sexos"... Não sei se será masculinidade tóxica, mas coisa saudável não me parece ser de todo. Aliás, em matéria de "desconstruções", a própria lei vai tomando uns banhitos de realidade, não acha? Isto apesar de alguns tropeços, entre o trágico e o bufo, dados por sentenças e acórdãos antológicos, no sentido literal do termo. E reconhecerá, também, que o tal heterossexual piroposo, se estiver com a mulher ou a filha, e passe outro idêntico aficionado da liberdade de expressão a gabar-lhes os dotes físicos, não se conterá a cercear-lhe o dito justo direito ao livre piropo, nem que mais não seja jorrando vernáculo... Está a ver a cena com figurantes padecendo de "feminilidade tóxica"? Aposto que não, por mal-formadas que fossem. Eu, desde que soube que um respeitabilíssimo político de direita foi maoísta, e que até "nacionalizava" mobiliário dos inimigos de classe, fiquei de crer em tudo, até que a Terra é plana. Mas nunca acreditarei que o Sr. Sardica alguma vez foi a um acampamento sem ser de escuteiros, ou que bifou umas moeditas do porquinho-mealheiro para comprar cromos da bola quando era criança. Ou que mande piropos a desconhecidas, já agora.
  • Elisabete
    25 jul, 2018 Setúbal 17:48
    Caríssimo, O BE, apenas já não consegue esconder o que realmente o motiva "ataque puro e duro dos valores Civilizacionais". De qualquer modo o seu artigo é bastante interessante, e útil. Seria bastante adequado para um serão em "FAMÍLIA". A tal que constantemente é atacada por estes iluminados, defensores de fracos e oprimidos, ou não tão fracos e oprimidos.
  • Anónimo
    25 jul, 2018 15:02
    Já a direita radical é mais "empreendedorismo", "colaboradores" e outras palhaçadas do género. Todo o tipo de termos alternativos para justificarem a vossa ideologia doentia!