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Política

Quem tem medo de uma terceira dissolução?

01 jan, 2024 - 17:34 • Susana Madureira Martins

O fantasma de uma terceira dissolução do Parlamento tem sido acenado à esquerda. Quão grande será o medo de Marcelo em usar a bomba atómica pela terceira vez? E que PS e que PSD terá o país se, de novo, forem convocadas eleições legislativas?

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É incrivelmente desafiante o ciclo eleitoral que se aproxima. O país não está a passar por uma crise política, tem pelo menos duas. A que foi provocada pela demissão do primeiro-ministro e a que foi assumida pelo presidente do Governo regional dos Açores ao perceber que não teria um orçamento aprovado nem agora, nem daqui a meses.

Em boa verdade, as duas crises políticas estão ligadas. Aquele que for, em fevereiro, o resultado eleitoral nos Açores, poderá servir de espelho para as eleições de março e ser usado pelas diversas caravanas eleitorais como arma de arremesso ou como capital político.

É o momento a seguir a esse que interessa. A campanha vai ser dura, intensa, mas o dia a seguir é que é. Se estivéssemos num número de ilusionismo, 11 de março seria o dia do prestígio, em que finalmente há um resultado, após tanto preliminar.

A questão é se o resultado eleitoral será absolutamente clarificador. Essa é a enorme incógnita, tendo em conta que, se nem PS, nem PSD conseguirem uma maioria clara, é grande a probabilidade de se prolongar a crise política.

Caberá nessa altura aos partidos e ao Presidente da República encontrar o melhor xadrez político ou, no pior dos cenários, serem, de novo, convocadas novas eleições. E, nesse caso, até onde é que Marcelo Rebelo de Sousa está disposto a ir para evitar esse cenário?

O fantasma de uma terceira dissolução do Parlamento tem sido acenado à esquerda. António Costa fê-lo durante uma Comissão Nacional do PS, ao mesmo tempo que acenava com o papão de uma aliança do PSD com o Chega.

Quão grande será o medo de Marcelo em usar a bomba atómica pela terceira vez? E quanta alegria será capaz de provocar em André Ventura? E que PS e que PSD terá o país se, de novo, forem convocadas eleições legislativas? E, já agora, antes disso, em que condições vão os partidos para as eleições europeias de junho?

No caso de existir uma maioria absoluta de qualquer um dos partidos toda esta reflexão cai por terra. Ou não. À vista do que aconteceu à atual maioria socialista, a estabilidade política na sequência de um resultado absoluto não fica garantida.

Nesse caso, volta a ser responsabilidade dos partidos e do Presidente da República garantirem essa estabilidade política e, sobretudo, estabilidade ao cidadão comum. Que alguma coisa estes dois anos tenham ensinado aos atores políticos.

Para os jornalistas, sobretudo os que se dedicam a acompanhar o Governo, os partidos, o Presidente da República, as crises políticas são como um jardim de infância, há um desejo secreto de tudo ser muito intenso, durante muitos dias, durante todo o ano.

É um prazer muito perverso, porque normalmente as crises políticas não são órfãs e trazem um lastro de crise económica e social, que já existe e poderá adensar-se se houver um empastelamento da situação.

Ou poderá adensar-se se se confirmarem os receios de muitos economistas de um cenário de recessão na zona euro. Nesse caso, qual será a dimensão da pancada que Portugal levará? E como proteger o país dessa eventual pancada? Sim, a campanha eleitoral terá de ser muito clarificadora sobre esta questão.

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