08 fev, 2024 - 17:05 • Redação
Para narrar a história de Carlos “El Tula” Pascual é preciso remontar ao ano de 1974. Enquanto Portugal atravessava uma revolução, o mundo centrava a sua atenção no Campeonato do Mundo disputado na Alemanha Ocidental. E lá estava Tula, de bombo ao peito e vestido a rigor com a camisola azul celeste. Foi o primeiro de 13 Mundiais.
Esta é a história de um adepto que não se pode separar da história da seleção argentina. Levou o seu bombo a todos os Mundiais entre 1974 e 2022 e vibrou com as três vitórias da Argentina na competição: Argentina 1978, México 1986 e Catar 2022.
Testemunhou ao vivo a mão de deus de Diego Maradona, que marcou dois golos nos quartos de final contra a Inglaterra, em 1986, ano que a seleção albiceleste venceu o seu segundo Campeonato do Mundo. Se um foi com a mão, patrocinando assim um castigo aos ingleses por causa das Malvinas (como confirmou a Kusturica, "foi como roubar-lhes a carteira"), o outro foi o tal golo divino, superando ingleses como se fosse o vento, enquanto Víctor Hugo Morales cantarolava a obra.
Em 2022, viu Lionel Messi consagrar-se finalmente campeão do mundo, depois da derrota na final de 2014, contra a Alemanha. Os albicelestes não conquistavam o torneio desde 1986, mas Carlos Pascual não deixou esmorecer a sua paixão.
Era vendedor ambulante e, devido às suas precárias condições financeiras, durante Mundial da Alemanha em 1974, só voltou à América do Sul oito meses depois do fim da competição.
O futebol foi a sua vida. Nasceu em Rosário, terra de Menotti e Messi, e foi pela primeira vez ver um jogo de futebol na década de 50. Foi ver o Rosário Central, clube que apoiava desde então.
Vivia perto do estádio e um dia reparou que não havia ninguém a tocar bombo e voluntariou-se para fazê-lo. Desde então, nunca mais parou.
“Expresso todos os meus sentimentos através do bombo”, disse Carlos Pascual numa entrevista à CNN. O bombo acompanhou-o durante toda a sua vida e levou-o a todos os cantos do mundo, do Japão aos Estados Unidos da América.
Ao longo dos anos, teve a oportunidade de estar com várias personalidades mundialmente conhecidas. Maradona, na década de 90, Messi, ainda no início da sua carreira, e os Papas João Paulo II e Francisco foram algumas das personalidades com quem privou.
Em 2022, ano em que Lionel Messi venceu a sua sétima Bola de Ouro, Tula subiu ao palco da cerimónia “The Best”, da FIFA, para receber a distinção de melhor adepto do mundo, juntamente com os “Muchachos”, como assim se definem os adeptos da seleção argentina.
Num palco rodeado das maiores estrelas do futebol mundial, tocou o seu bombo e cantou em honra de todos os adeptos que torceram e torcem pela Argentina.
O que resta da vida de um aficionado são as memórias que deixou à família, as fotografias e os vídeos que marcaram inúmeras gerações dos apaixonados pelo desporto-rei. O amor de Tula ao seu clube e seleção foi além fronteiras e conquistou pessoas por todo o mundo com o seu toque e chapéu azul celeste. A vida do futebol depende dos seus adeptos e se os adeptos forem todos como Carlos Pascual, o futebol será eterno, certo?
Pascual morreu em Buenos Aires, apresentava um estado debilitado e estava em coma induzido. Ficou por cumprir o sonho de tocar o seu bombo na muralha da China.
À parte do futebol, era um homem com ideias políticas. Era um defensor das ideias de Juan Domingo Perón, general argentino. Estava presente nas ruas e nos eventos, misturando-se com membros partidários em defesa do peronismo. O primeiro bombo que tocou ofereceu-o ao general, em 1971, quando o foi visitar a Madrid, quando este estava exilado.