Tempo
|
A+ / A-

CM de Lisboa entregou dados pessoais de manifestantes pró-Navalny ao Governo russo

09 jun, 2021 - 21:45 • Redação

Segundo o Observador e o Expresso, a autarquia disse que era rotina entregar dados de manifestantes a embaixadas de países que estivessem a ser contestados, mas primeiro disse que era da responsabilidade dos promotores não fornecer dados a terceiros.

A+ / A-

A Câmara Municipal de Lisboa terá fornecido os dados pessoas de três pessoas à embaixada russa de Lisboa e ao Governo russo. Segundo o Observador e o Expresso, as três pessoas, que são manifestantes anti-Putin e pró-Navalny, um dos maiores críticos do regime russo, souberam do sucedido por acaso.

A Renascença também confirmou que a autarquia terá fornecido os nomes, moradas e contactos telefónicos das três pessoas – duas delas têm nacionalidades russa e portuguesa – depois de estas terem organizado uma manifestação contra a detenção do ativista Alexei Navalny, em frente à embaixada da Rússia, em Lisboa.

O Observador e o Expresso noticiam que, além de ter recolhido os dados dos organizadores do evento para a Polícia de Segurança Pública, os dados foram também enviados à embaixada e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russos.

Segundo uma das organizadoras, a correspondência entre a autarquia e o Governo russo foi encontrada por acaso. Durante uma troca de emails com a Câmara Municipal, Ksenia Ashrafullina apercebeu-se que entre os endereços estavam os da embaixada russa e do MNE do país, além da PSP e do Ministério da Administração Interna de Portugal.

A mesma manifestante contou que passou a temer pela sua segurança e receia voltar ao país, por poder ser identificada como uma opositora do regime numa eventual entrada na Rússia.

Segundo Ksenia Ashrafullina, foi apresentada uma queixa e a Câmara contactou o Governo russo para apagar os dados pessoais, algo que a manifestante afirma ter agravado ainda mais a situação.

A Câmara Municipal de Lisboa começou por referir que era da responsabilidade dos promotores dos eventos o cuidado de não dar informações pessoas a terceiros quando não fosse necessário. Depois, corrigiu e argumentou que a troca de dados pessoais era um processo de rotina e que era "habitual" enviar a documentação a todas as entidades envolvidas, incluindo a embaixadas e Governos estrangeiros que fossem contestados numa manifestação.

Desde então, a autarquia disse que contactou o Governo russo para apagar os dados dos promotores, algo que não consegue confirmar que tenha acontecido. À Renascença, a Câmara liderada por Fernando Medina reconhece que procurará não repetir esta medida e diz ter procedido a uma auditoria interna.

A autarquia também revelou à Renascença que foram entretanto recusadas as partilhas de dados às embaixadas de Israel, Cuba e Angola para situações semelhantes.

Moedas acusa Medina de ser "aliado de Putin"

Sendo ano de autárquicas, o caso já foi inevitavelmente usado pelo principal candidato da oposição à Câmara de Lisboa.

Carlos Moedas emitiu um comunicado em que acusa Medina de ser "aliado de Putin".

"As notícias que vieram hoje a público, dando conta de a Câmara de Lisboa ter enviado para a Rússia dados pessoais de ativistas russos residentes em Portugal, são de uma extrema gravidade. A confirmar-se, Fernando Medina só tem uma saída: a demissão."

"Um país democrático e da UE não pode ter um Presidente da Câmara da capital que é cúmplice de uma ditadura como a de Putin", diz ainda o candidato do PSD à Câmara de Lisboa.

Já o candidato às presidenciais de 2021 com o apoio da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, disse no Twitter que "tem de haver consequências", apontando para a saída de Fernando Medina da autarquia e o seu partido perdeu pouco tempo a reagir.

"Perante a gravidade destes factos e admitindo, de momento, que estamos perante apenas uma situação de profunda incompetência e não de uma ação deliberada que teria ainda outro nível de gravidade, a Iniciativa Liberal exige que Fernando Medina e a sua equipa assumam as suas responsabilidades políticas", apontou, em comunicado, o partido.

A IL quer ainda que seja tornado público o resultado da averiguação interna feita pela Câmara Municipal de Lisboa e que o Estado garanta a segurança dos cidadãos em causa e das respetivas famílias.

Por outro lado, o partido quer ver esclarecido se é "prática normal a transmissão deste tipo de informações a outros Estados e, em caso afirmativo, quantas vezes e em que circunstâncias aconteceu", bem como se o Ministério dos Negócios Estrangeiros português tinha conhecimento deste caso.

"Com este ato de incúria grosseira, a Câmara Municipal de Lisboa destruiu qualquer confiança que pudesse existir na gestão do seu executivo e pôs em causa a segurança dos três cidadãos, dois deles com nacionalidade portuguesa, bem como das suas respetivas famílias", vincou.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Anónimo
    10 jun, 2021 Lisboa 16:14
    Toda a paranóia da criminosa NATO com a Rússia, alegando que se não fosse a NATO a Rússia já teria invadido isto tudo... E depois vai-se a ver e um país da NATO, conhecido por ser submisso ao imperialismo britânico, mostra ainda ser submisso ao imperialismo russo, "chibando" os seus opositores. Mas ninguém no PS ganha vergonha na cara?
  • Cidadao
    10 jun, 2021 Lisboa 10:13
    Medina acaba de condenar pessoas a nunca mais poderem voltar ao seu País, enquanto Putin lá estiver. Nem voltar ao seu País nem "voar perto dele", pode haver "uma ameaça de bomba a bordo" e serem "escoltados" para uma base aérea Russa onde se procede ao rapto de pessoas incómodas. Auditoria? O Mal está feito, isso agora serve de quê? Só se for de desculpa para não ter de se demitir...
  • Maria Oliveira
    10 jun, 2021 Lisboa 06:59
    Este assunto é de uma extrema gravidade. É inacreditável que possa acontecer uma coisa destas, que parece ter-se devido a incompetência e incúria. Não adianta fazer "auditorias". O mal está feito e as pessoas visadas têm razões para temer. O máximo responsável da CML, o seu Presidente, deve sair. Não pode desresponsabilizar-se e não há desculpa.

Destaques V+