26 mar, 2021 - 14:59 • Olímpia Mairos
Uma alcateia de lobos matou, esta semana, vários vitelos numa propriedade de São Mateus, aldeia do concelho de Montalegre. A informação é avançada pela autarquia que dá conta de “um prejuízo avultado”.
De visita à propriedade onde foram mortos os animais, o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Rodrigues, apontou o dedo à “inércia de quem tem obrigação para resolver problemas”.
“Estamos perante uma situação lamentável. Recordo que há muitos anos que este barrosão vem exibindo fotografias dos assaltos e da devastação que o lobo causa na sua manada de gado e que, lamentavelmente, ainda não conseguiu sensibilizar as sucessivas direções do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) para que seja compensado do esforço que faz para alimentar uma espécie que é protegida”, afirma o autarca.
Orlando Alves exige que o ICNF resolva o problema, adiantando que “estão aqui factos comprovadíssimos, isto é, vitelos recém-nascidos que estão permanentemente a ser devorados pelo lobo”.
“Nós próprios, na Câmara, já fomos mensageiros, junto do ICNF, deste desespero. Isto tem que ter solução. O ICNF tem de perceber que tem que, no seu orçamento anual, dotar financeiramente a rubrica das indemnizações devidas às pessoas que alimentam a espécie protegida”, defende o autarca, adiantando que vai levar o assunto ao conhecimento da diretora regional de Agricultura.
A matança que aconteceu nos últimos dias vem juntar-se à do ano passado, em que foram mortos 21 animais do mesmo proprietário, adianta Orlando Alves.
José Apolinário, conhecido como o "Pacheco de Meixide", é o gestor de uma quinta com mais de 80 hectares, na aldeia de São Mateus. Alugou o espaço há mais de 30 anos. Já teve cavalos, burros e agora tem perto de 40 vacas. Conta que desde sempre o lobo, espécie protegida em Portugal, rondou a propriedade com estragos, porém, nunca os danos foram tantos como há dois anos a esta parte.
“O ano passado foram mortos 21 vitelos. Este ano já vai em 13. Um prejuízo insuportável”, afirma o produtor, queixando-se de “nunca ter tido ajuda das entidades competentes”.
“Nunca fui ajudado com nada. Não consigo suportar isto toda a vida”, desabafa Apolinário, acrescentando que esta é a sua “sobrevivência”.
“É daqui que saem os meus rendimentos. Tenho dois garotos. Tenho que pagar a Segurança Social e os outros impostos… Se isto continua, não vou conseguir”.
Além dos prejuízos causados pelo lobo, o autarca de Montalegre alerta para o impacto causado pelos javalis.
“Estamos também numa outra guerra. Refiro-me ao javali, um predador ainda mais pernicioso que o lobo. Destrói tudo. Coloca muita gente desanimada, numa altura em que estamos a viver a fase das sementeiras”, afirma o presidente da autarquia de Montalegre.
A Renascença tentou obter esclarecimentos junto do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mas, até à publicação deste artigo, não obteve qualquer resposta às questões formuladas através de correio eletrónico.