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Guarda

"Coroas de rainha". Professora recupera bolo tradicional em tempo de pandemia

18 mar, 2021 - 07:00 • Liliana Carona

Decidida a conhecer a história das doceiras da Faia, na Guarda, uma jovem professora de Português procurou e encontrou a história de um bolo do início do séc. XX. A comercialização das “coroas de rainha” está para breve.

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Terá sido confecionado em 1907 para a Rainha D. Amélia, na aldeia da Faia, na Guarda, hoje com 200 habitantes, mas estava no esquecimento. Pelo menos, não constava dos grandes livros de receitas.

Em 2020, em pleno confinamento, Liliana Brás, uma jovem professora de Português, decidiu ir à procura de testemunhos que recordassem a história das "coroas da rainha".

Para Maria da Glória não há grande ciência. Aos 83 anos, domina a arte da doçaria. Mas a verdade é que os doces até incitaram uma divisão geográfica na Faia.

“Daqui para cima da regueira eram as mulheres do arroz doce e para baixo as da tapioca”, afirma a neta dos caseiros da Quinta de São Mateus, espaço que em 1907 acolheu a Rainha D. Amélia, quando esteve hospedada, a convite do seu proprietário, o General Lobo de Vasconcelos, oficial às ordens do rei, aquando da inauguração do Sanatório da Guarda.

“Terão sido estas doceiras que criaram o doce que chegou até nós por tradição oral”, diz Liliana Brás apontando para uma fotografia a preto e branco cedida por familiares do General Lobo de Vasconcelos.

“A fotografia das doceiras é capa de um livro da minha autoria que retrata a história da Faia, partilhada através de testemunhos orais” e que a professora vai conquistando à soleira da porta. Todos lhe pedem que cante e em troca, recebe as histórias do passado.

“Doces? Toda a gente faz”, simplifica Maria da Glória, ao mesmo tempo que enumera alguns dos que conhece bem: os farrapos, a tapioca, o arroz doce, os sonhos, os bolos da Páscoa e agora as ‘coroas da rainha’, nome recriado com base na história de 1907.

“A minha bisavó foi cantar e levaram flores e cestos com bolos. A Rainha D. Amélia agradeceu, dizendo: que lindas coroas de rainha”, explica a professora da Faia que, em agosto passado, juntamente com o município da Guarda e a junta de freguesia local, dinamizou um concurso para recuperar a receita dos bolos oferecidos à Rainha D. Amélia, em 1907, por altura da colheita da cereja.

“Cada doceira apresentou a sua receita do bolo seco individual, sendo que a fruta típica era a cereja, mas como o concurso foi em agosto fizeram com rainha cláudia”, descreve a investigadora sobre as "coroas de rainha", acrescentando que “várias receitas foram a concurso, perante um júri qualificado”.

Liliana Brás está a fazer um estudo particular da aldeia da Faia e do Vale do Mondego.

Uma investigação que já transportou para peça de teatro, livro e uma página no Facebook, a ‘Faia do Mondego’, onde fala do património material e imaterial. “A Faia teve um passado glorioso e é isso que eu quero trazer às novas gerações”, conta a professora, mostrando os gogos (pedras) do rio com rendas em volta, e que eram usadas para embelezar as cerimónias, como o casamento.

A comercialização do bolo, cuja receita, pertence à bisneta da autora inicial, deverá acontecer este verão, a juntar ao lançamento de uma linha de cerâmica relacionada com as "coroas de rainha".
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