Tempo
|
A+ / A-

Angola

Igreja Católica angolana alerta para "grave massacre" em Lunda Norte

01 fev, 2021 - 18:39 • Lusa

Entre seis e 15 pessoas, consoante as fontes, morreram numa manifestação pela autonomia da região de Lunda Tchokwe, que abrange todo o leste de Angola.

A+ / A-

Vários bispos católicos angolanos denunciaram esta segunda-feira o que consideram ter sido um "grave massacre" de manifestantes na localidade de Cafunfo, Lunda Norte, afetos ao Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT).

Nas redes sociais, vários bispos católicos angolanos que integram a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) também condenaram as mortes dos manifestantes pela polícia.

As autoridades policiais alegam que mataram seis manifestantes que tentaram invadir uma esquadra no Cafunfo enquanto o MPPLT contraria essa versão acusando as forças angolanas de terem disparado indiscriminadamente contra cidadãos desarmados, provocando 15 mortos e dez feridos.

O arcebispo de Saurimo, D. José Manuel Imbamba, que já foi o bispo da diocese onde se localiza Cafunfo, escreveu na rede social Facebook um "desabafo em voz alta", lamentando o sangue "derramado inutilmente" e questionando se havia necessidade para "tanta violência e desumanidade".

"Os problemas sociais, de miséria, exclusão e analfabetismo são mais do que evidentes nesta região leste. Em vez da política dos músculos, não seria mais sensato cultivarmos a política do diálogo para juntos resolvermos e venceríamos as assimetrias sociais gritantes tão notórias?" – questionou.

O também vice-presidente da CEAST e responsável pela província eclesiástica que tutela a diocese do Dundo diz estar "profundamente chocado e consternado" com o sucedido, espera que a investigação seja "vigorosa e responsabilize os que agiram mal".

Já o bispo de Cabinda, D. Belmiro Chissengueti, na sua reação sobre o "massacre" na Lunda Norte, afirmou, na sua conta oficial no Facebook, que o que se passou em Cafunfo "é muito grave", defendendo "investigações independentes para se responsabilizar publicamente os culpados".

"Este país é grande demais e nele cabemos todos. É muito rico, mas é preciso que se deixe de roubar e se distribua a riqueza mediante a diversificação da economia geradora de empregos. Não podemos continuar neste paradoxo que faz das zonas de exploração de riqueza verdadeiros pântanos de pobre", atirou.

Por sua vez, o bispo da diocese do Moxico, leste de Angola, disse estar com o "coração a sangrar" devido à "violência inaudita de Cafunfo com toda a dose de agressão e morte, de desrespeito a vivos e defuntos".

Para Jesus Tirso Blanco, "nada pode justificar esse tipo de execuções sumárias sem crime cometido", escreveu o bispo na conta na rede social, considerando que, no passado sábado, "se abriram feridas profundas que não cicatrizarão facilmente".

Em declarações à Lusa, o bispo do Dundo, D. Estanislau Marques Chindekasse criticou a violência e recordou que o protesto tem raízes em problemas profundos por resolver.

"Claramente que é preocupante, quando há perdas de vidas humanas nos preocupa e lamentamos, mas a questão fundamental não é esta, está é simplesmente uma manifestação de uma realidade mais profunda", afirmou.

A Lunda Norte é uma zona de grande implantação das autoridades tradicionais e tem existido uma tensão permanente entre estas e o poder central de Luanda.

Esta segunda-feira, o bispo católico que tutela a região defendeu o "diálogo como princípio fundamental" para a resolução dos problemas, referindo que depois do 4 de abril de 2002 (Dia da Paz e Reconciliação em Angola) "nenhum angolano mais iria morrer por causa das ideias que tem".

Segundo D. Estanislau Marques Chindekasse, a questão daquela região do leste de Angola "é muito mais complexa" e uma manifestação "não se resolve com violência nem de uma parte nem da outra".

O comandante geral da polícia nacional angolana, Paulo de Almeida, visitou, neste domingo aquela região, a garantiu um inquérito para se apurar responsabilidades.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • EU
    02 fev, 2021 PORTUGAL 20:19
    HENRIQUE de CARVALHO, que linda cidade. Como eu passei BONS momentos e me senti como em casa. Das Zonas mais BONITAS de Angola que conheci. Mortes? Isso NÃO.

Destaques V+