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Médio Oriente: Gaza não mobiliza ocupamentos universitários em Lisboa

05 mai, 2024 - 09:38

A causa palestiniana tem apoio entre estudantes universitários em Lisboa, que até condenam as intervenções policiais contra o movimento estudantil mundial pró-Palestina, mas ocupar edifícios ou fechar universidades é para os mesmos inútil ou até descredibilizador.

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A causa palestiniana tem apoio entre estudantes universitários em Lisboa, que até condenam as intervenções policiais contra o movimento estudantil mundial pró-Palestina, mas ocupar edifícios ou fechar universidades é para os mesmos inútil ou até descredibilizador.

Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no centro de Lisboa, são frequentes os protestos, sobretudo ambientalistas e até envolvendo acampamentos no "campus". Mas na última semana, enquanto universidades norte-americanas e francesas viviam intervenções policiais para acabar com acampamentos ou desocupar edifícios tomados por ativistas pró-Palestina, a vida académica decorria normalmente no "campus" da Avenida de Berna.

"Acho que devemos mostrar a nossa revolta para com estas situações [como a guerra em Gaza], mas não acho que fechar a faculdade vai fazer com que a situação mude, até porque nem sequer é no nosso país", referiu a estudante Ana Lourosa em declarações à Lusa. A aluna da licenciatura de Estudos Portugueses sublinhou ainda que o modo como os estudantes portugueses se manifestam pode fazer com que sejam "um bocado descredibilizados".

Em 7 de outubro, o movimento islamita Hamas realizou um ataque sem precedentes no solo israelita. Israel respondeu com uma ofensiva na Faixa de Gaza, que causou dezenas de milhares de mortos.

Desde abril, as universidades norte-americanas, como as de Columbia e da Califórnia (UCLA), registam uma vaga de protestos a favor de Gaza, em que já foram detidos milhares de estudantes. Estas manifestações de solidariedade com Gaza inspiraram ações semelhantes em França, no instituto Sciences Po, onde a polícia também entrou para retirar dezenas de ativistas.

Relativamente ao impacto dos protestos atuais, os estudantes ouvidos pela Lusa defendem que mandam uma mensagem política e "com certeza chamam a atenção das pessoas que não estavam tão cientes", conforme defendeu Diogo Lopes. O aluno da Nova considera que o que está a acontecer nas universidades com a polícia "não faz muito sentido", referindo que viu imagens dos Estados Unidos, em que os agentes agiram de forma agressiva e "armados como se fossem lidar com terroristas".

Os "estudantes da esplanada", como são chamados, apelam à participação na manifestação pela Libertação da Palestina do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) no dia 11 de maio, em Lisboa. .

Embora não se registe nenhuma manifestação na primeira semana de maio, as palavras pintadas nas mesas da esplanada revelam algumas das causas pelas quais dão a voz, como "Congo Livre, Sudão Livre, Palestina Livre" e "O 25 de abril nasceu em África".

As pessoas deslocam-se sem impedimentos entre os edifícios da faculdade, enquanto a esplanada, característica desta instituição, está cheia de alunos e docentes a conviver.

Para Amadu Sabali, estudante de sociologia, "a vida de muitas pessoas está a ser ceifada" na Faixa de Gaza, alvo de uma ofensiva israelita. "Acho que temos de parar e pensar nesta questão", diz. Entre os alunos, existe alguma apreensão em falar do conflito no Médio Oriente, embora seja frequente a quem passa nesta rua assistir a protestos de estudantes com megafones e cartazes, sobre as mais diversas causas.

"A nossa faculdade sempre foi pioneira no que toca a manifestações de lutas sociais. No entanto, o facto de haver tanta manifestação, ainda há tempos tivemos uma do fim ao fóssil, por exemplo" pode ser a razão para a não mobilização para este tema, indicou Tiago Freitas, também estudante de Estudos Portugueses.

Já Asmira Adelino Nhaga, estudante de Ciências da Comunicação, atribui a falta de mobilização para a questão de Gaza à "divergência". "Algumas pessoas estão do lado da Palestina e outras estão do lado de Israel", frisa.

Para Beatriz, estudante de Filosofia e membro da associação de estudantes, é difícil precisar se "há mobilização estudantil suficiente" para replicar o cenário de outros países, já que o contexto político de Portugal é diferente e que a "ligação dos EUA neste momento com o conflito é muito mais direta por causa do financiamento contínuo a Israel".

"Um protesto pró-Palestina nos Estados Unidos tem um peso muito mais significante do que um protesto pró-Palestina em qualquer lugar da Europa", afirmou Pedro Fogueiral. O colega João Correia corrobora: "obviamente que se a França mudar de uma posição na guerra da Palestina, vale muito mais que Portugal".

"Quando fazem acampamentos do fim ao fóssil há muitas bandeiras da Palestina, mas eu acho que é um grupo bastante pequeno dentro da faculdade", disse Maria Camões, estudante de Ciências da Comunicação.

"Eu acho que se está a confundir muita coisa", afirmou à Lusa uma professora universitária, que não quis ser identificada. Muitos jovens estão "mal informados sobre este conflito e sobre a sua história" e apenas uma parte "está mais ou menos ciente em relação ao que se está a passar no mundo, inclusive no conflito israelo-palestiniano", segundo a docente.

A professora considera ainda que deveria questionar-se a posição do Hamas, dos "países árabes à volta que nunca reconheceram o estado israelita" e também dos ingleses e franceses - "os verdadeiros culpados do que se está a passar no Médio Oriente".

O recinto universitário, marcado com cravos pintados nos muros, uma exposição sobre Salgueiro Maia e uma viatura blindada das Forças Armadas estacionada à porta do edifício principal, comemora assim os 50 anos do 25 de abril.

Uma época em que a polícia entrava nas universidades como forma de calar a voz da comunidade académica, o que justifica a aversão dos portugueses ao que está a acontecer nas universidades francesas e dos Estados Unidos. Onde, afirmou a professora, "é mais fácil a polícia entrar e fechar do que seria em Portugal".

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