11 mai, 2024 - 00:00 • Alexandre Abrantes Neves
Mais de um milhão de portugueses concluiu o ensino básico ou secundário através de programas de educação para adultos ao longo dos últimos 20 anos.
Os resultados fazem parte da segunda série do estudo "O Ensino em Portugal antes e depois do 25 de Abril" promovido pelo Edulog, o “think thank” da Fundação Belmiro de Azevedo, que se dedica à investigação científica em temas de educação.
O projeto analisou o conteúdo e o financiamento de várias tipologias destes programas, nomeadamente “Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências”, “Cursos de Educação e Formação para Adultos” e ainda “Formação Modular”.
Em declarações à Renascença, a coordenadora Paula Guimarães lamenta que estes programas estejam demasiado dependentes do financiamento e das regras do Fundo Social Europeu – e relembra que há exemplos no passado que mostram os riscos desta situação.
“Isso traz um problema quando não há financiamento europeu: por alguma razão, acaba-se e fica tudo à beira de um ataque de nervos. Foi quase o que aconteceu, em 2012, quando houve uma negociação dos quadros comunitários e havia dúvidas se existia financiamento para a educação e formação de adultos. Mostrou-se que, não havendo dinheiro, é uma chatice”, explicou.
Quanto ao conteúdo destes programas, o estudo sublinha que a oferta a nível nacional é pouco variada e que a maioria das formações se foca apenas em conceder competências técnicas e “centradas sobretudo nos problemas do emprego e do trabalho”.
Paula Guimarães considera que esta é uma das causas para as dificuldades experienciadas por muitos adultos em ingressar no ensino superior e pede, por isso, que os programas promovam o desenvolvimento de outro tipo de competências, nomeadamente cívicas.
PRR
Segundo a Direção-Geral do Ensino Superior, este I(...)
“Há um conjunto de dimensões da vida social que estão muito para lá daquilo que são coisas relacionadas com o trabalho. Nós vivemos em democracias representativas e somos chamados, em certos momentos, a eleger certos órgãos, que tomam decisões. A boa educação para adultos também devia ter a seu cargo a cidadania, a educação política, a literacia ambiental e financeira…”, detalha.
A investigação debruça-se ainda sobre cursos pensados para grupos específicos da população, nomeadamente imigrantes e idosos. No caso das formações destinadas a pessoas com 65 anos ou mais, a investigadora reforça que é “essencial” adicionar módulos sobre o funcionamento das novas tecnologias, nomeadamente “explicando os riscos associados às proteções de dados e às compras online”.
Quanto à educação para imigrantes, Paula Guimarães pede que os planos de formação vão para lá do ensino da língua portuguesa.
“Ser imigrante em Portugal não é só vir para cá trabalhar. É necessário encontrar conteúdos que ajudem estas pessoas a integrarem-se na sociedade portuguesa e a viver em democracia, já que muitos deles vêm de países que estão muito longe de serem países democráticos”, remata.
O estudo refere ainda que desde 2016, e “depois de cinco anos a descer devido às medidas da Troika”, se nota “um aumento lento, mas progressivo” da Formação Modular que resulta numa subida do número de adultos a concluir o ensino básico e secundário desde aí: só no ano letivo 2021/2022, cerca de 53 mil portugueses concluíram o 9.º ou o 12.º ano de escolaridade.
Segundo os dados recolhidos pelo Edulog, os programas de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências - que permitem obter certificação através de aprendizagens adquiridas ao longo da vida e da experiência profissional - são as iniciativas que mais adultos têm formado nos últimos 20 anos (635 mil), logo seguidos dos Cursos de Educação e Formação para Adultos que permitiram a conclusão dos estudos a cerca de 463 mil portugueses.
A Formação Modular (formações de curta duração ou dedicadas a uma competência específica) é o tipo de curso de formação para adultos que menos resultados obteve – apenas 10.500 portugueses terminaram o ensino básico ou secundário através deste tipo de programas.