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Chegou a Portugal o sensor cardíaco de ouro que salva vidas, sem o doente sair de casa

25 nov, 2020 - 06:30 • Filomena Barros

Novo dispositivo tem o tamanho aproximado de uma moeda de 2 cêntimos, não tem pilhas, baterias ou duração. Já foi implantado em dois portugueses, no Hospital de Santa Marta.

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Chama-se CardioMEMS, é um dispositivo inovador para doentes com insuficiência cardíaca, que chega agora a Portugal. A implantação nos dois primeiros doentes aconteceu esta semana, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa.

O contexto da pandemia acelerou a chegada a Portugal deste dispositivo médico, já em utilização nos Estados Unidos e em vários países da Europa, como a vizinha Espanha.

À Renascença, o diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital Santa Marta, Rui Ferreira, reconhece que “neste momento é um problema extramente sensível, ou seja, se eu evitar a ida de um doente a um serviço de urgência, evitar um internamento no atual contexto, estou a tirar pressão dentro do sistema e isso é benéfico para todos”.

O primeiro passo foi dado com a colocação do dispositivo em dois doentes, de idades entre 50 e 60 anos, considerados casos graves. “São doentes muito sintomáticos e que vivem um pouco na corda bamba de puderem vir a descompensar de um momento para o outro”, explica Rui Ferreira, acrescentando que “temos de tentar, precocemente, identificar uma evolução negativa para pudermos atuar de forma muito rápida e evitar que uma descompensação se agrave e que origine um episódio de urgência”.

E como é que o CardioMEMS evita esses episódios de urgência? O dispositivo “é um sensor que está colocado no interior do organismo do doente, na artéria pulmonar, e é muito mais sensível a pequenas oscilações do que os mecanismos que nós utilizamos atualmente, que são mecanismos externos, relógios ou sensores externos que dão uma imagem indireta do que se passa”, explica o médico.

O doente só precisa transmitir, todos os dias, a partir de sua casa, a leitura dos valores das pressões, através de um procedimento que demora alguns segundos.

Essa informação é tratada por “uma equipa médica e de enfermagem que vai colhendo informação diária sobre estas situações, e que tem meios de contactar, de imediato, os doentes e, inclusivamente, fazer alterações da terapêutica que possam evitar uma descompensação mais significativa”.

O novo dispositivo é feito de ouro, tem o tamanho aproximado de uma moeda de 2 cêntimos, não tem pilhas, baterias ou duração, por isso, não precisa ser substituído.

De acordo com o cardiologista Rui Ferreira, o Hospital de Santa Marta/Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, conta implantar, até final do ano, mais três dispositivos CardioMEMS.

Admite que a tecnologia não é barata, o que limita o número de doentes que podem ser abrangidos, daí a necessidade de garantir financiamento aos hospitais. Explica que “temos tido um limite (de doentes) referente ao número de dispositivos que nós temos. São dispositivos relativamente dispendiosos e, portanto, que envolvem um investimento financeiro. Nós temos tido apoios para que esse investimento tenha sido feito e para que o programa seja lançado, mas, digamos, é uma forma pouco convencional de lidar com este tipo de situações. A nossa intenção é chamar a atenção de que tem de haver formas de os hospitais serem financiados, de uma forma compreensiva, relativamente a este tipo de situações”.

O diretor do Serviço de Cardiologia de Santa Marta alerta também para o facto de, apesar do contexto da pandemia, a inovação não parou e o trabalho continua a ser feito.

“Continuamos a tratar, regularmente, doentes com patologias para além da Covid, que não podem ser postos de lado, nem abandonados nesta fase, isto é muito importante porque são situações que têm mortalidade muito superior à Covid, carecem de cuidados diários, e isso não pode ser posto em causa ou comprometido nestas circunstâncias”, sublinha.

De acordo com os mais recentes dados, estima-se que 5% da população portuguesa sofra de insuficiência cardíaca e que esta percentagem possa subir para 30%, no espaço de 10 anos.

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