23 nov, 2020 - 09:26 • Olímpia Mairos
A segunda missão católica mais antiga da Diocese de Pemba, situada no distrito de Muidumbe, foi atacada, ocupada e destruída pelos grupos armados que estão a espalhar o terror e a morte na província de Cabo Delgado, em Moçambique.
Em declarações à AIS, o padre Edegard Silva refere que no “dia 30 de outubro, os terroristas voltaram a ocupar o distrito de Muidumbe”, onde fica a missão.
O sacerdote brasileiro conta que “homens armados e violentos” tomaram conta, por vinte dias, de toda área da missão, acrescentando que a chegada dos terroristas levou à “debandada geral da população”.
“Toda população foge para o mato. Nós nos refugiamos em Pemba”, diz, à AIS, o missionário saletino.
O sacerdote indica que toda aquela área esteve “debaixo do controle dos terroristas, que apenas abandonaram o espaço da missão católica na passada quinta-feira, dia 19 de novembro”.
E foi precisamente nessa altura que tomaram conhecimento real do que tinha acontecido.
“Está tudo destruído. A casa onde residíamos transformou-se em cinzas. Todos os equipamentos foram queimados. O templo, onde fica a sede da paróquia, destruído… A sala da rádio comunitária queimada. A casa das irmãs destruída…”, relata o padre Edegard à fundação pontifícia.
O sacerdote assinala que os relatos que chegam a Pemba dão conta de um profundo sofrimento das populações face à violência dos ataques, havendo mesmo referência a “massacres”.
“Pelos caminhos, estão encontrando muitos corpos já em decomposição. As ações dos terroristas são violentas, muitas pessoas foram decapitadas, casas queimadas e derrubadas…”, descreve.
Na mensagem enviada à AIS, o padre Edegard Silva afirma viver-se “uma situação dramática”. Fala na “dor de um povo”. “Gente que continua sem localizar seus familiares. Pessoas que tiveram as suas casas queimadas. Muitas pessoas assassinadas. Fala-se de massacres e de 500 mil deslocados. Vidas e vilas destruídas.”
O missionário saletino apela à “solidariedade internacional” perante o cenário de guerra e de destruição, com a necessidade de “encaminhar hospedagem, comida, remédio, água, barracas, lonas… para 500 mil pessoas…”
Quinhentas mil pessoas é a estimativa dos deslocados em Cabo Delgado, em consequência dos ataques de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico. Segundo a AIS, estima-se que mais de duas mil pessoas tenham já morrido.