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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tempo de instabilidade governativa

30 out, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A mais importante diferença política é entre partidos que defendem a democracia liberal e aqueles que a rejeitam – à esquerda e à direita. A “geringonça” permitiu que o governo do PS chegasse ao termo do seu mandato, mas não se repetirá.

O PS não ganhou as eleições de 2015, mas António Costa tornou-se primeiro-ministro de um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, governo que completou o seu mandato (algo que na altura me parecia impossível). O problema da habilidade de A. Costa foi o PS não ter obtido a maioria absoluta nas eleições de 2019.

O PCP perdeu votos com o seu apoio ao executivo de A. Costa. O BE receia perdê-los se apoiar um próximo governo socialista, numa altura em que a pandemia irá agravar a crise económica e social no país, exigindo medidas pouco simpáticas. A “geringonça” não irá regressar.

O governo de um PS sem a maioria dos deputados terá enormes dificuldades não só na aprovação dos orçamentos do Estado mas em fazer aprovar no parlamento as medidas que deveria tomar. É uma condenação à navegação à vista, travando reformas de fundo de que a modernização da economia portuguesa necessita.

A aliança pontual de um partido democrático e europeísta com forças políticas que não apreciam a democracia representativa nem a UE, embora tendo aguentado quatro anos, sempre me pareceu “contranatura”. A sociedade e o regime político que o PS defende pouco têm a ver com o que desejam aqueles partidos de extrema-esquerda.

O PCP está agarrado ainda ao comunismo soviético; o BE parece mais aberto em matéria de liberdades, mas é estatizante a um grau incompatível com uma democracia representativa. Por isso PCP e BE são essencialmente partidos de protesto, não de Governo.

Por sua vez, a direita política portuguesa atravessa uma profunda crise, o que dificulta a alternância no poder. Mas também a direita democrática precisa de interiorizar que os seus valores são muito diferentes dos ideais dos partidos da direita dita radical, autoritários e que não respeitam as liberdades.

Em Espanha o líder do Partido Popular, da direita democrática, Pablo Casado, demarcou-se do partido Vox, de extrema-direita, votando contra a sua moção de censura ao governo socialista e sobretudo criticando violentamente as posições não democráticas desse partido. Uma atitude clara e exemplar, que ainda não se viu por cá.

A diferença entre esquerda e direita não se tornou obsoleta; mas mais importante é a diferença entre partidos que defendem a democracia liberal e aqueles que a rejeitam – à esquerda e à direita.

O PS não ganhou as eleições de 2015, mas António Costa tornou-se primeiro-ministro de um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, governo que completou o seu mandato (algo que na altura me parecia impossível). O problema da habilidade de A. Costa foi o PS não ter obtido a maioria absoluta nas eleições de 2019.

O PCP perdeu votos com o seu apoio ao executivo de A. Costa. O BE receia perdê-los se apoiar um próximo governo socialista, numa altura em que a pandemia irá agravar a crise económica e social no país, exigindo medidas pouco simpáticas. A “geringonça” não irá regressar.

O governo de um PS sem a maioria dos deputados terá enormes dificuldades não só na aprovação dos orçamentos do Estado mas em fazer aprovar no parlamento as medidas que deveria tomar. É uma condenação à navegação à vista, travando reformas de fundo de que a modernização da economia portuguesa necessita.

A aliança pontual de um partido democrático e europeísta com forças políticas que não apreciam a democracia representativa nem a UE, embora tendo aguentado quatro anos, sempre me pareceu “contranatura”. A sociedade e o regime político que o PS defende pouco têm a ver com o que desejam aqueles partidos de extrema-esquerda.

O PCP está agarrado ainda ao comunismo soviético; o BE parece mais aberto em matéria de liberdades, mas é estatizante a um grau incompatível com uma democracia representativa. Por isso PCP e BE são essencialmente partidos de protesto, não de Governo.

Por sua vez, a direita política portuguesa atravessa uma profunda crise, o que dificulta a alternância no poder. Mas também a direita democrática precisa de interiorizar que os seus valores são muito diferentes dos ideais dos partidos da direita dita radical, autoritários e que não respeitam as liberdades.

Em Espanha o líder do Partido Popular, da direita democrática, Pablo Casado, demarcou-se do partido Vox, de extrema-direita, votando contra a sua moção de censura ao governo socialista e sobretudo criticando violentamente as posições não democráticas desse partido. Uma atitude clara e exemplar, que ainda não se viu por cá.

A diferença entre esquerda e direita não se tornou obsoleta; mas mais importante é a diferença entre partidos que defendem a democracia liberal e aqueles que a rejeitam – à esquerda e à direita.

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  • António Candeias
    30 out, 2020 Leiria 16:47
    Nem ganhou as eleições o António Costa nem o Passos Coelho em 2015, e se formos a alianças nem o PPD/CDS ganharam se tivessem ganho o P.R. Cavaco tinha dado a posse ao PPD/CDS, se formos a ver até nem um partido ganhou para governar sozinho e em 2019 quem ganhou foi a abstenção essa é que tem andado sempre a subir e os políticos assobiam para o lado como se nada se passa-se.