Música

Traições, filhos secretos e pedofilia. A cronologia do “beef” entre Drake e Kendrick Lamar

06 mai, 2024 - 20:10 • Diogo Camilo

Começou como uma luta de egos entre os maiores nomes do hip-hop, mas já envolve acusações de violência doméstica, cirurgias estéticas, o uso de inteligência artificial e até Taylor Swift. Em menos de uma semana, Drake e Kendrick Lamar lançaram seis músicas a falar mal um do outro. E ninguém sabe quando vão parar.

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A história do hip-hop é feita de música insurgente contra a desigualdade social e racial, mas também de confrontos entre os maiores nomes de cada tempo: as “diss tracks” não são novas e tornaram-se uma marca do rap nos anos 80. Dividiram os artistas e, por consequência, os fãs, mas originaram inspiração para quebrar barreiras e deram-nos verdadeiros clássicos.

Começaram como quezílias geográficas, entre a Costa Este e Oeste dos EUA - e que tiveram como ponto alto a rivalidade de Notorious B.I.G. e 2Pac, que acabou tragicamente para ambos -, e tiveram pontos altos também em amizades que se tornaram animosidades, como a saída de Ice Cube dos NWA ou entre os amigos Jay-Z e Nas.

É aqui que começa também a relação entre Drake e Kendrick Lamar, o mais recente “beef” do hip-hop norte-americano e que tem agitado as redes sociais nas últimas semanas.

Em menos de um mês, foram lançadas oito músicas, seis delas em sete dias, numa luta de egos que levou ambos para a lama, com acusações de traições, filhos esquecidos, filhos secretos, abusos, pedofilia - e com participações especiais de inteligência artificial, Taylor Swift, J. Cole ou Snoop Dogg.

Antes da rivalidade

Ambos pesos pesados do hip hop atual, Drake e Kendrick Lamar começaram como amigos. Em novembro de 2011, Kendrick colaborou no segundo álbum de Drake, Take Care, em “Buried Alive Interlude” e até abriu concertos para o artista canadiano durante a sua tour de 2012, ao lado de A$AP Rocky. Drake retribuiu o gesto aparecendo no segundo álbum de Kendrick , Good Kid, M.A.A.D. City, na música “Poetic Justice”.

Em agosto de 2013, Kendrick surge na música de Big Sean “Control” a falar de vários artistas, como J. Cole, Meek Mill, Pusha T ou A$AP Rocky. Mais tarde, o rapper de Compton, em Los Angeles, admitiu que a música se referiu a mais artistas, entre eles Drake.

Não se sentindo atacado na altura, em resposta à Billboard, Drake avisou que se Kendrick “o assassinasse, se poderia revisitar o assunto”.

O início do “beef”

As coisas acalmaram nos 10 anos seguintes, até Drake ter lançado uma música com J. Cole no final do ano passado. Em “First Person Shooter”, no oitavo álbum de Drake, J. Cole fala num “big three” - os três maiores - do rap, referindo-se a si mesmo, Drake e Kendrick Lamar.

“We the big three like we started a league, but right now, I feel like Muhammad Ali” - “Nós os três grandes começámos uma liga, mas neste momento sinto-me o Muhammad Ali", como analisa a publicação norte-americana Vulture.


Kendrick não gostou da ideia de ser comparado a outros dois nomes e respondeu em março deste ano. Em “Like That”, música de Future com Metro Boomin, Kendrick diz ser “só ele”, comparando-se a Prince e comparando Drake a Michael Jackson. “O Prince viveu mais que ‘Mike Jack’”, canta.

As respostas de Drake

Duas semanas depois, Drake respondeu com a partilha de “Push Ups”, apontando que Kendrick “não pertence a nenhum ‘big three’”, criticando a sua participação com artistas pop como os Maroon 5 e Taylor Swift e deixando no ar uma possível traição da mulher de Kendrick, Whitney Alford, aponta a imprensa norte-americana.



Sem resposta, seis dias depois Drake voltou à carga com “Taylor Made Freestyle”, uma música entretanto retirada, em que usa inteligência artificial para recriar as vozes de ídolos de Kendrick Lamar: Tupac e Snoop Dogg.

O terramoto criado por Kendrick: seis músicas em seis dias

Pressionado por Drake, “King Kunta” lançou a sua resposta a 30 de abril, com “Euphoria”, numa referência à série da HBO que Drake ajudou a produzir.

Kendrick diz que Drake tirou conclusões erradas a partir do seu próprio álbum, chama-o de “mestre manipulador” e “mentiroso habitual”, diz que “engana por likes e abraços virtuais”, ridiculariza-o pelas suas inseguranças com a sua etnia e fala ainda das suas qualidades parentais - “vejo que não sabes nada sobre isso” -, sobre a sua alegada operação plástica e as suas qualidades como artista de hip hop: “não és um artista rap, és um artista de truques com a esperança de ser aceite”.



A segunda “diss track” surge três dias depois. O nome “6:16 in LA” é uma referência às músicas de Drake, que também usa horas e locais para dar nome às suas obras - como "3AM on Glenwood" do seu álbum com 21 Savage ou "7969 Santa" no seu último álbum -, onde Kendrick sugere que tem pessoas infiltrado na editora de Drake, a OVO.

Drake responde no mesmo dia com “Family Matters”: oito minutos onde sugere que o manager de Kendrick, Dave Free, é o pai de pelo menos um dos seus filhos e onde volta a falar da infidelidade da sua mulher e a alegar violência doméstica: “Quando pões as tuas mãos em cima da tua miúda é autodefesa porque ela é maior que tu?”



O artista canadiano não teve de esperar nem três horas pela resposta de Kendrick, que retorquiu na mesma moeda da família. Em “Meet the Grahams” - o nome de Drake é Aubrey Drake Graham -, Kendrick alega que Drake tem uma filha secreta de 11 anos.

A resposta surgiu pouco depois, pelas redes sociais. “Alguém pode encontrar a minha filha escondida e encaminhá-la para mim?”

Kendrick não parou aqui e menos de 24 horas depois lança “Not Like Us”, em que acusa Drake de ser um “pedófilo certificado”, em referência ao seu álbum “Certified Loverboy”: “Está a tentar acertar um acorde e provavelmente é A-Menor.”


A resposta de Drake - que não deverá ficar por aqui - surgiu este domingo, com “The Heart Part 6”, numa referência às várias músicas da série “The Heart” que Kendrick tem nos seus últimos álbuns.

Na mesma, Drake diz que a sua equipa do OVO é que criou o falso rumor de que teria uma filha escondida: “Tens de aprender a fazer fact-check às coisas e ser menos impaciente.”


Pela brevidade com que as últimas músicas foram lançadas, é impossível antecipar por quanto tempo - e por quantos singles - esta rivalidade continuará. Aquilo que começou por ser uma batalha de egos é agora uma batalha que envolve a vida pessoal de ambos, com cada música divulgada a revelar possíveis detalhes comprometedores do outro.

[artigo atualizado às 21h38]

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