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Entrevista a Ricardo Mexia

Mortes por Covid-19 aumentam 70%, mas taxa de letalidade continua a baixar

05 out, 2020 - 17:17 • Sofia Freitas Moreira

Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública diz que “aumento ligeiro da mortalidade associada” pode continuar, mas explica que “a letalidade, como em qualquer pandemia, tende a diminuir ao longo do tempo” devido ao conhecimento da doença.

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O número de mortes diárias provocadas pela Covid-19 tem vindo a aumentar, tal como o número de novas infeções diárias. Apesar destes aumentos, a taxa de letalidade tem continuado a diminuir desde o início de junho, quando registou o seu maior pico.

De acordo com os dados divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS), nos últimos 15 dias, entre 21 de setembro e 5 de outubro, 106 pessoas perderam a vida para a Covid-19. É um aumento de 70% face às duas semanas anteriores, entre 6 e 20 de setembro, quando morreram 74 infetados.

A subida do número de óbitos acompanha o aumento de novos casos diários que se têm vindo a registar ao longo das últimas semanas, o que pode explicar a contínua diminuição da taxa de letalidade que a Covid-19 tem desempenhado em Portugal. Em declarações à Renascença, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), apoia essa explicação, mas acrescenta que isto não significa "que a situação se vá manter assim ao longo do resto da época", já que a mortalidade tem vindo a aumentar.

NÚMERO DE MORTES DIÁRIAS POR COVID-19

Entre os dias 1 e 3 de junho, o novo coronavírus registou a maior taxa de letalidade no país, com 4,4%. Desde aí, tem vindo sempre a decrescer, encontrando-se agora nos 2,5%. Nas últimas duas semanas, diminuiu 0,3%.

Ricardo Mexia aponta que o número de óbitos não tem comparação com aquilo que aconteceu numa fase inicial e, portanto, a diminuição da taxa de letalidade pode ter duas razões. "Estamos a assistir a um número de infetados com uma idade mais baixa e, portanto, tendencialmente, também com letalidades menores. Por outro lado, também não é menos verdade que nós temos conseguido, apesar de não termos ainda nem uma vacina, nem um medicamento eficaz, melhorar a gestão clínica dos casos", avança o especialista.

O conhecimento da doença, na opinião de Mexia, é uma das principais componentes para a estabilização da taxa de letalidade associada. No entanto, o médico alerta que "à medida que vamos acumulando casos, essa mortalidade também irá, provavelmente, surgir".

NÚMERO DE MORTES POR GRUPO ETÁRIO

"É prematuro fazer uma análise de maior benignidade"

António Costa, disse, no último domingo, que tem havido uma evolução significativa da pandemia de Covid-19 desde meados de agosto, realçando, contudo, que as infeções são agora de “menor gravidade”.

“Estamos a ter, como é sabido, desde meados de agosto, uma subida constante das infeções, em linha com a generalidade dos países europeus”, começou por dizer o primeiro-ministro, acrescentando que “são infeções que hoje, felizmente, estão a ter menor gravidade do que no início da crise”.

Para Ricardo Mexia, a análise de António Costa é "prematura", pelo facto de que "não houve nem uma mutação do vírus, de forma significativa e que possa indiciar, por alguma razão, que o vírus é menos agressivo" e porque "a manifestação clínica dos casos" que têm surgido não é "diferente".

O especialista diz que "é certo que com um idade mais baixa, em mais jovens, os casos tendem a ser mais benignos", mas aponta que "isso era verdade em março, como é verdade agora". Não deixa, no entanto, de assinalar a "nota positiva" de os números não estarem "ainda no patamar em que estavam em março e abril".

"Recursos já foram desmobilizados e não foram repostos"

Mexia considera que a comunicação que tem chegado do Governo não tem sido a mais "assertiva", para que "as pessoas adotem comportamentos seguros e saudáveis". O presidente da ANMSP indica que não tem existido "mobilização de recursos suficientes" no que diz respeito às unidades de saúde pública, por exemplo.

"Os recursos foram alocados no momento em que a situação estava muito complicada, particularmente aqui na periferia da Grande Lisboa, mas, entretanto, esses recursos já foram desmobilizados e não foram repostos", avança o médico de Saúde Pública.

As unidades de saúde pública "estão, neste momento, já com uma dificuldade importante em dar resposta a todas as solicitações", diz Ricardo Mexia, que acrescenta que este "reforço é prioritário para que consigamos continuar a quebrar as cadeias de transmissão e manter a disseminação da doença a níveis que são compatíveis com a nossa capacidade de resposta".

SITUAÇÃO DA PANDEMIA POR REGIÃO

Portugal ultrapassou no domingo a barreira das duas mil mortes por Covid-19. Em sete meses, o novo coronavírus vitimou 2.005 portugueses.

A região Norte, apessar de não ser a que mais casos de infeção tem, é a que mais mortes por Covid-19 apresenta, logo seguida por Lisboa e Vale do Tejo.

Na última terça-feira, o mundo ultrapassou a barreira do um milhão de mortes por Covid-19. A doença provocada pelo SARS-CoV-2 passou a ser a 11.ª causa de morte, a nível mundial.

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