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50 anos depois: Tarrafal é exemplo daquilo que nunca mais se quer

01 mai, 2024 - 15:50

Os chefes de Estado que hoje celebraram os 50 anos da libertação dos presos políticos no Tarrafal, Cabo Verde, apontaram o antigo campo (hoje, museu) como exemplo daquilo que nunca mais se quer.

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Foto: Nuno Veiga/Lusa
Foto: Nuno Veiga/Lusa

Os presidentes de Portugal, Cabo Verde e Guiné-Bissau e o ministro da Defesa de Angola descerraram pelas 11h20 (13h20 em Lisboa) uma placa que assinala os 50 anos da Libertação do Campo do Tarrafal.

O momento marcou o arranque das cerimónias centrais que hoje decorrem na ilha de Santiago, Cabo Verde, e que unem quatro países oprimidos pela violência da ditadura colonial portuguesa. Segue-se uma sessão especial com os chefes de Estado e uma conferência sobre o campo de concentração pelo historiador Victor Barros.

Luís Fonseca, antigo embaixador cabo-verdiano, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) entre 2004 e 2008, usará da palavra como porta-voz dos presos políticos.

À tarde, os presidentes realizam uma visita guiada ao campo e as comemorações do dia terminam com um concerto com Mário Lúcio (Cabo Verde), Teresa Salgueiro (Portugal), Paulo Flores (Angola) e Karyna Gomes (Guiné Bissau), com entrada livre.

Um total de 36 pessoas morreu no campo, a maioria, 32 mortos, de nacionalidade portuguesa, que contestava o regime fascista. Foram presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.

A carcere reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde —altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses.

A libertação de quem se opunha ao Estado Novo aconteceu poucos dias depois de o regime fascista ter sido derrubado com a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal.

Foto: Elton Monteiro/Lusa
Foto: Elton Monteiro/Lusa

Democracia requer "cuidados permanentes" para que "nunca mais se fale de campos de concentração"

Os chefes de Estado que, esta quarta-feira, celebraram os 50 anos da libertação dos presos políticos no Tarrafal, Cabo Verde, apontaram o antigo campo (hoje, museu) como exemplo daquilo que nunca mais se quer.

Ao discursar na cerimónia, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa destacou: "o museu que se quer vivo para testemunhar o que não queremos que seja o presente, nem o futuro".

Uma tarefa essencial, "sobretudo para os jovens de amanhã saberem aquilo que devem rejeitar, sempre: não há confusão possível entre opressão e liberdade, entre ditadura e democracia", realçou.

O futuro nasce da união no passado, referiu José Maria Neves, Presidente cabo-verdiano, que evocou a revolução de 25 de Abril de 1974 para relembrar que "os povos de Portugal e das colónias estiveram na mesma trincheira" contra a ditadura portuguesa.

"Hoje são novos os desafios e horizontes, numa conjuntura mundial cada vez mais complicada", apontando como exemplo as vagas migratórias de quem foge da violência e de "novas prisões", acrescentou, apelando ao reforço da "democracia" com humanidade.

A democracia requer "cuidados permanentes" para que "nunca mais se fale de campos de concentração", concluiu.

O chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, prestou homenagem, no seu discurso, "inclinando-se" perante a memória dos presos políticos.

Da mesma forma, o ministro da Defesa de Angola, em representação do presidente João Lourenço, enalteceu todas as iniciativas que destaquem a resistência ao regime colonial.

Um grupo de 22 deles, aprisionados na segunda fase do campo, oprimindo anticolonialistas, estiveram presentes hoje.

Luís Fonseca, antigo embaixador cabo-verdiano, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) entre 2004 e 2008, usou da palavra como porta-voz dos presos políticos.

O ex-recluso 343 recordou um encarceramento que pretendia fazer desaparecer os ideais de liberdade, mas que produziu solidariedade, pensamento e até poesia e novas canções.

Da mesma forma, pediu que haja solidariedade para com a Palestina, numa alusão ao conflito na faixa de Gaza, considerando que a ofensiva de Israel parece colocar apenas como opções "o extermínio ou o exílio", de formas semelhantes às práticas da era colonial portuguesa.

Para que não haja mais "tarrafais", importa que novas gerações visitem o antigo campo do Tarrafal, hoje Museu da Resistência, que cumpre preservar e desenvolver.

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  • Sara
    01 mai, 2024 Lisboa 20:11
    Sobre as diversas declarações nesta visita, os doentes nunca reconhecem que estão doentes, um perigo para Portugal e mundo.
  • raul Silva
    01 mai, 2024 Cacém 15:48
    Um apoiante do Regime anterior ao 25 de abril, a defender a democracia e a condenar o Tarrafal é algo que só pode acontecer quando a personagem em causa se chama Marcelo Rebelo de Sousa.

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