02 jan, 2021 - 17:19 • Henrique Cunha
O interior do país reclama criação da figura do “cuidador comunitário” para dar apoio “a quem quer permanecer em casa”, considera Domingos Nascimento, presidente do projeto Aldeias Humanitar.
O dirigente sustenta que a criação da figura do cuidador comunitário ajuda na luta contra o desamparo humano no interior de Portugal.
O projeto Aldeias Humanitar intervém de forma gratuita em 10 concelhos do distrito de Viseu. Em entrevista à Renascença o seu presidente Domingos Nascimento revela que “neste momento o projeto faz o acompanhamento de 206 pessoas que vivem isoladas”.
“Aquilo que nós preconizamos é que seja criada uma nova função nas comunidades, que é a função do cuidador comunitário que seria uma pessoa profissional que daria apoio a quem quer permanecer em casa, tanto na vertente da saúde, dentro das circunstâncias da sua formação, como na vertente de apoio às atividades da vida diária”, diz.
Em que consiste o Aldeias Humanitar?
O Aldeias Humanitar é uma síntese das dinâmicas que já existem na comunidade. Porque o trabalho que é feito pelas IPSS, pelas juntas de freguesia, pelos municípios é um excelente trabalho. O trabalho que é feito pelo SNS também é um trabalho importantíssimo. Mas depois há aqui um vazio que se nota cada vez mais numa comunidade desorganizada em termos sociais porque não tem retaguarda. E há aqui um vazio que é preenchido por uma nova resposta a que nós denominamos de cuidados complementares.
Os cuidados complementares são cuidados complementares de saúde e de amparo social. E tem numa das dimensões desta intervenção uma parceria estratégica com a Guarda Nacional Republicana, particularmente aqueles que se encontram em situação de isolamento e ou vulnerabilidade.
E há um número elevado de pessoas nessa situação?
Portugal tem, particularmente no interior, um número imenso de pessoas nessa circunstância, sendo que no distrito de Viseu e particularmente na nossa região em 10 municípios com uma população de aproximadamente de 100 mil habitantes, temos mais duas mil pessoas nesta circunstância. O que é uma preocupação imensa na medida em que uma parte significativa delas nem sequer tem qualquer resposta social daquelas que já existem no terreno.
Então o único apoio é desenvolvido pelo vosso projeto?
Aquilo que nós procuramos fazer é promover mudança e alertar para a necessidade de uma nova resposta, de uma resposta que esteja cada vez mais próxima e de uma forma continuada com as pessoas. Gostava apenas de deixar aqui um pequeno alerta: é fundamental que a comunicação social alerte para uma circunstância. As pessoas que pretendem permanecer nas suas residências não têm qualquer apoio regular. Aquilo que nós preconizamos é que seja criada uma nova função nas comunidades, que é a função do cuidador comunitário que seria uma pessoa profissional que daria apoio a quem quer permanecer em casa, tanto na vertente da saúde, dentro das circunstâncias da sua formação, como na vertente de apoio ás atividades da vida diária.
A pandemia para além de acentuar a solidão trouxe outros problemas nomeadamente de âmbito mais social.
Social e de saúde. A Vulnerabilidade é agravada na medida em que, tanto os familiares que nunca as desamparam, e não estamos a falar de abandono, estamos a falar de desamparo por força das circunstâncias físicas de nas aldeias já não existirem, nem outros serviços de retaguarda, essas pessoas viram a sua vida piorar, a sua qualidade de vida piorar. Porque as pessoas tinham receio de as visitar na medida em que podiam ser fator de transmissão do vírus, e elas próprias tiveram também maior de aceder aos cuidados de saúde. Os cuidados de saúde, a dada altura fecharam bastante as portas tornando mais difícil a prestação de cuidados a estas pessoas com muitas patologias.
Como é que subsiste o projeto, de quantos colabores dispõe e a quantas pessoas conseguem chegar?
Nós neste momento apoiamos 206 pessoas. As necessidades são imensas. Há muita gente a ser referenciada para o projeto. o projeto tem fundamentalmente equipas de enfermagem, médica e outras terapias, técnicos. Estamos a falar na ordem das 10 pessoas. O projeto subsiste com apoios que tem de várias instituições que lhes permitem prestar um serviço absolutamente gratuito às pessoas. Ou seja, o Aldeias Humanitar é um projeto iminentemente humanitário, não cobra nada, nada a quem apoia.