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Trânsito na ponte Romana de Chaves? Há referendo no domingo

09 set, 2020 - 09:50 • Olímpia Mairos

Os flavienses vão dizer se querem ou não trânsito automóvel na ponte de Trajano. A estrutura, considerada o ex-libris da cidade, liga duas freguesias, passou a pedonal em 2008.

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Para votar, no próximo domingo, no referendo sobre a reabertura ao trânsito da ponte romana de Chaves, os cidadãos devem desinfetar as mãos ao entrarem e ao saírem da secção de voto e utilizar a sua própria caneta. É obrigatório o uso de máscaras e os eleitores devem manter o distanciamento de dois metros, enquanto aguardam a vez para exercer o direito de voto.

As normas estão publicadas no site do Ministério da Administração Interna (MAI) e visam evitar possíveis contágios de Covid-19.

A proposta para a realização do referendo, apresentada e aprovada em reunião de Câmara em 22 de junho, foi também aprovada em Assembleia Municipal e validada pelo Tribunal Constitucional.

O referendo terá uma única pergunta de resposta "sim" ou "não", nomeadamente: "Concorda com a reabertura da ponte romana de Chaves ao trânsito de veículos automóveis ligeiros, num único sentido?".

Este será o primeiro referendo a ser realizado no município e será “vinculativo quanto ao sentido da decisão, se for participado por mais de 50% dos eleitores inscritos”.

A ponte romana de Chaves, monumento nacional classificado, construído no fim do século I d.C., passou a ser pedonal em 2008, num processo envolto em grande polémica na cidade.

Reabertura ao trânsito divide população

O referendo sobre a reabertura ao trânsito da ponte romana de Chaves vai realizar-se no próximo domingo, dia 13. E até ao momento não houve uma campanha propriamente dita.

É nas redes sociais que se vão esgrimindo argumentos com os defensores do ‘não’ a serem mais ativos e a manifestarem claramente o seu desacordo com a reabertura ao trânsito.

Já nas ruas da cidade, alguns populares dizem à Renascença do seu sentir e da sua vontade.

Carlos Silva, de 26 anos, considera ser “um atentado ao património que daqui por uns anos se pode pagar bem caro”.

“A ponte é a nossa imagem de marca. Há muitos turistas que se deslocam aqui só por causa da ponte e se divertem a tirar e a postar fotos, o que é uma grande promoção para a cidade, não podemos perder isto”, afirma o engenheiro informático.

Também Maria do Nascimento, de 70 anos, gostaria de poder continuar a passear-se pela ponte “sem ser incomodada pelos carros”.

“Não tem jeito nenhum estarmos a andar para trás e a trazer o trânsito para aqui. E também não faz sentido andar a brincar aos referendos e a gastar dinheiro, quando é necessário para outras coisas importantes”, atira Maria.

Já António Costa, de 40 anos, residente na freguesia da Madalena, entende que a reabertura ao trânsito “é uma lufada de ar fresco para uma zona degradada e para o comércio em agonia”.

Opinião idêntica é manifestada por Antónia Augusta, de 60 anos, que já em 2008 não concordou com o encerramento da ponte ao trânsito.

“Passando a ponte é um saltinho até ao centro e assim temos que dar uma volta enorme para chegar aonde queremos ir”, diz a habitante da freguesia da Madalena.

“É uma perda de tempo e de gasolina, quando a ponte aguenta bem com trânsito e muito mais se for só num sentido”, conclui.

Sem evidência de danos, mas utilização pedonal é a ideal

Um relatório sobre a ponte romana de Chaves revela não serem evidentes consequências estruturais relevantes da circulação automóvel, mas considera que a atual utilização pedonal é a ideal.

O relatório da inspeção está disponível no site do município e refere que "a ponte já foi utilizada como via rodoviária e não são evidentes consequências estruturais relevantes que resultem desta situação".

"A eventual utilização exclusiva para veículos ligeiros a circular apenas num sentido é também uma atenuante relevante visto que normalmente a magnitude de cargas envolvidas nesta situação não é expressiva", lê-se no documento.

O relatório indica que do “ponto de vista estrutural, a utilização atual é a ideal, visto que não existem sobrecargas significativas sobre a estrutura, nem outros efeitos colaterais associados à passagem de tráfego, tal como vibrações e forças horizontais associadas à travagem dos veículos em cima da plataforma viária”.

“Apesar de não se terem identificado indícios de anomalias de cariz estrutural relevantes, não é possível assegurar com uma mera inspeção visual as condições de segurança da estrutura e sua capacidade resistente a determinadas solicitações, nomeadamente à passagem de tráfego”, refere o estudo elaborado pela empresa Betar Consultores.

O compromisso para realizar o referendo surgiu na campanha eleitoral de 2017.

A consulta popular vai realizar-se sem que o presidente da autarquia, Nuno Vaz, se tenha pronunciado sobre a sua intenção de voto para "não influenciar nenhuma das decisões", mas com um apelo à participação dos cidadãos de todo o concelho.

"É fundamental que as pessoas participem, de forma informada. Tão legítimo é aqueles que pensam que o voto deve ser ‘não’ como os que dizem que o voto deve ser ‘sim’", considera o autarca, realçando que o referendo é um "momento cívico importante e único no concelho" e que poderá abrir oportunidade para mais referendos sobre "outras matérias relevantes".

Comentários
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  • Ivo Pestana
    09 set, 2020 Funchal 13:42
    Se eu mandasse, eram só transportes de duas rodas ou tracção animal.

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