Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Ex-colaboradores de Trump nas malhas da justiça

22 ago, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Multiplicam-se os ex-colaboradores de Trump que se defrontam com acusações criminais na justiça. Vários encontram-se já presos. Outros antigos colaboradores passaram a atacar o presidente (que antes idolatravam), nomeadamente através de livros de memórias.

Foi tornado público, esta semana, um relatório do Senado americano que culminou mais de três anos de investigação sobre alegadas interferências russas na campanha eleitoral nos EUA em 2016. O Senado, onde o partido republicano tem maioria, aprovou esse relatório, onde se diz que Paul Manafort, então director da campanha de Trump, teve contactos com um espião russo.

Embora não tenha detectado a existência de colaboração institucional entre a campanha de Trump e organizações russas, o relatório do comité de informações do Senado assegura que Paul Manafort colaborou com um agente secreto russo. Manafort forneceu-lhe informações sensíveis em troca de possíveis negócios com oligarcas russos e ucranianos. P. Manafort cumpre hoje pena, por fraude, numa prisão dos EUA.

Soube-se, também, que Steve Bannon, que sucedeu a P. Manafort na direção da campanha eleitoral de Trump em 2016, só não está preso, para já, por ter pago uma caução de 5 milhões de dólares. Steve Bannon é acusado, juntamente com três outros, de se ter apropriado de uma parte do dinheiro doado por particulares, através de “crowd-funding”, a uma campanha para financiar a construção do muro entre os EUA e o México, de maneira a travar a entrada de migrantes em território americano.

Steve Bannon não é um personagem qualquer. Não só contribuiu para eleger Trump, como permaneceu perto de um ano na Casa Branca como mentor e conselheiro do presidente. Em parte porque tinha uma má relação com a filha e o genro de Trump, Steve Bannon abandonou a Casa Branca ainda em 2017.

Nessa altura S. Bannon virou-se para a Europa, difundindo a sua ideologia de extrema-direita, hostil aos imigrantes e à integração europeia. Tentou, mesmo, criar em Itália uma universidade destinada a formar quadros qualificados imbuídos daquela ideologia. A tentativa falhou.

A grande aposta de S. Bannon era federar os partidos populistas, eurocéticos e de extrema-direita existentes na UE, provavelmente sob a liderança de Salvini. Mas aí também as coisas não lhe correram de feição. Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu esses partidos não tiveram a estrondosa vitória que pretendiam, para, nas suas próprias palavras, destruírem a UE “por dentro”. E Salvini deixou de ser o “patrão” do governo italiano, passando para a oposição e perdendo popularidade.

Steve Bannon tornou-se, assim, mais um ex-colaborador de Trump que se afasta do presidente, mas não da ideologia de extrema-direita. A confirmarem-se as acusações de que ele é agora alvo, trata-se também de mais um ex-colaborador de Trump que cai nas malhas da justiça americana por motivos criminais. Além de P. Manafort, recordem-se Roger Stone, confidente de Trump, Michael Cohen, ex-advogado do presidente, George Papadopulos, um antigo conselheiro da campanha eleitoral, Rick Gates, ex-vice diretor da campanha, Michael Flyin, ex-conselheiro de segurança do presidente, etc.

Vários antigos colaboradores de Trump viraram-se entretanto contra ele; e alguns até publicaram livros de memórias a dizer cobras e lagartos do presidente, que antes idolatravam. É um panorama lamentável.

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