24 jun, 2020 - 22:30 • José Pedro Frazão
Paulo Rangel critica duramente o comportamento do Primeiro-Ministro no chamado desconfinamento numa avaliação que não poupa também o Presidente da República.
"O problema não está no desconfinamento mas nos sinais e no modo como está a ser feito. Aqui o Primeiro-Ministro tem responsabilidades enormes e o Presidente da República tem também algumas. Desde que começou o desconfinamento passaram a vida em mergulhos, em praias, em restaurantes, em espectáculos, foram ao Campo Pequeno", denuncia o eurodeputado social-democrata no programa "Casa Comum" da Renascença numa parceria com a Euranet, Rede Europeia de Rádios.
Paulo Rangel responsabiliza "acima de tudo" o Governo acusando-o de ter "andado a esconder lixo debaixo do tapete durante este tempo todo até segunda-feira passada", dia em que organizou uma reunião especial para tomar decisões em relação ao surto que se distribui por várias freguesias da Área Metropolitana de Lisboa.
O eurodeputado do PSD alega que os autarcas da Grande Lisboa estiveram ausentes da discussão pública do surto, com algumas excepções como Bernardino Soares, de Loures, e Luís de Sousa, da Azambuja. "Quando o surto no Norte teve a expressão que teve, quem verdadeiramente resolveu os problemas foram os autarcas", sustenta Rangel na Renascença no debate com o socialista Francisco Assis.
Marcelo e Costa de braço dado
O militante do PS critica o discurso comum a António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa que acabou por ser absorvido pela sociedade portuguesa.
" Se há um 'milagre português' é evidente que há depois uma tendência para o relaxamento nos comportamentos individuais de cada português.Foi o aspecto mais negativo de tudo isto", afirma Francisco Assis. Na segunda renovação do estado de emergência a 16 de Abril, o Presidente da República afirmou que "se isto é um milagre, o milagre chama-se Portugal".
Para Paulo Rangel, a análise da comunicação sobre o desconfinamento tem que associar o Chefe de Estado ao líder do Governo.
"Ainda agora o Presidente da República diz que têm que estar todos muito unidos. Mas tem que sair uma mensagem muito unida se for uma mensagem correcta. Se assim não for, os partidos da oposição têm que fazer uma crítica e 'pôr os pés à parede' em certo momento", complementa Rangel no debate habitual das quartas-feiras na Renascença.
Uma "ideia patrioteira barata"
Francisco Assis critica a realização da fase final da Liga dos Campeões em Lisboa e sustenta que foi uma decisão errada que configura um risco desnecessário a diversos níveis.
"Ponderando vantagens que podem resultar na imagem de Portugal e alguma actividade turística gerada pelo evento e as grandes desvantagens em termos sanitários e de segurança, creio que as desvantagens superam claramente as vantagens", afirma Assis que se mostra particularmente preocupado com o impacto do acontecimento no dispositivo de segurança interna.
O antigo eurodeputado do PS diz que a realização da Liga dos Campeões em Lisboa "vai provavelmente obrigar que as forças policiais, já exaustas neste momento pelo extraordinário trabalho desenvolvido ao longo dos últimos meses, tenham que se confrontar com um trabalho adicional com dimensões que não conseguimos antecipar verdadeiramente neste momento".
Já Paulo Rangel critica o anúncio político do evento que juntou em Belém muitos ministros, as três figuras cimeiras do Estado, o autarca de Lisboa e os representantes da Federação Portuguesa de Futebol e o Sport Lisboa e Benfica.
"Não tem sentido absolutamente nenhum fazer aquela coisa feérica, com pompa e circunstancia, porque a Liga dos Campeões vem para Lisboa", critica Rangel para quem o evento em si não lhe desperta "um lado patrioteiro-festivaleiro" que na sua opinião leva a exageros como os que observou em Belém.
Numa nota mais pessoal, o social-democrata diz não amar menos o seu país por não alinhar nesse tipo de discursos.
" Nunca ninguém me ouvirá dizer que os portugueses são os melhores do mundo. Os portugueses são o povo de quem eu mais gosto", remata Rangel.
[Notícia corrigida às 00h45]