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Da loja social para o jardim. Está “estendido” o estendal solidário de S. João da Misericórdia de Évora

23 jun, 2020 - 14:05 • Rosário Silva

​É o “II Estendal Solidário” que se realiza no jardim do Paraíso, desta vez com regras de utilização do espaço bem definidas por causa da pandemia. “Os novos tempos trouxeram novas necessidades, a novas pessoas”, lembra a Santa Casa da Misericórdia de Évora.

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É o “II Estendal Solidário” que se realiza no jardim do Paraíso, desta vez com regras de utilização do espaço bem definidas por causa da pandemia. “Os novos tempos trouxeram novas necessidades, a novas pessoas”, lembra a Santa Casa da Misericórdia de Évora.

Florbela Prates, acompanhada da neta, foi uma das primeiras a “inaugurar” o estendal solidário que a Santa Casa da Misericórdia de Évora, promove desde esta terça-feira até à próxima quinta. “Acho que é uma iniciativa boa, para quem precisa, como eu e para muitos”, diz à reportagem da Renascença, enquanto vai olhando para as peças de vestuário que estão estendidas ao longo do Jardim do Paraíso, onde decorre o evento.

Florbela já é assídua na loja social da instituição que, por estes dias, do outro lado da rua, serve apenas de retaguarda para esta iniciativa.

“Vou ali buscar muita roupa, para mim e para a minha neta”, conta-nos, ao mesmo tempo que concorda, quando lhe perguntamos se a crise sanitária fez disparar as necessidades das famílias.

“Sim, há muita gente que precisa. Nós já precisávamos e agora ainda mais”, afirma.

Desempregada, confessa que sempre necessitou de amparo, desde muito nova. “Os meus pais eram pobres, eu também sou, mesmo antes de haver vírus, sempre precisei que me ajudassem”, garante, para, logo em seguida, dizer o que não deixa de ser uma verdade absoluta: “A gente compra melhor o comer que uma peça de roupa”.

Um estendal solidário tendo por legenda os santos populares

Por causa de pessoas como a Florbela, mas também por todos aqueles que, com a crise pandémica, provam agora o lado menos bom da vida, que a Misericórdia de Évora volta a trazer para a rua, a sua loja social. É a segunda edição de uma iniciativa que se realizou em janeiro passado, com muita adesão, denominada “Aconchego de Inverno.”

“Nessa altura prometemos à comunidade voltar na mudança de estação. Aqui estamos, apesar de, no inicio da pandemia, termos equacionado não vir para a rua, porém calculados os riscos, não quisemos falhar, uma vez que a cidade pode contar sempre com a sua Misericórdia, tanto mais nesta altura em que as pessoas mais precisam”, diz à reportagem da Renascença, a secretária-geral da instituição.

Ana Talhinhas revela que foram acauteladas e criadas todas “as condições de segurança, de acordo com as indicações da Direção-Geral da Saúde, para que as pessoas possam vir ao nosso estendal de forma segura, tal como os nossos colaboradores e voluntários.”

Na verdade, as atuais circunstâncias, refere a responsável “impeliu-nos a vir para a rua, uma vez que estes novos tempos trouxeram, também, novas necessidades a novas pessoas.”

Num espaço “aberto, público e livre”, como é o jardim do Paraíso, todos podem entrar e levar o que lhes faz falta. “A experiência da edição passada já nos diz que muitas das pessoas que vêm ao estendal não são por norma frequentadores da loja social”, admite, Ana Talhinhas.

Sem o “estigma” de entrar numa loja social, quem precisa, pode ter, desta forma, alguma privacidade, pois “ninguém interpela as pessoas ou pretende saber o motivo que as traz aqui, embora acompanhadas pelo nosso pessoal, mas apenas para evitar que se mexa nas peças”, acrescenta.

Mas a garantia da privacidade, não dispensa o cumprimento das regras estabelecidas. Foi desenhado um circuito, dentro do jardim, com entrada e saída, para evitar o cruzamento entre as pessoas. À entrada são acolhidas por um voluntário ou um colaborador da instituição, convidadas a higienizar as mãos, se não trouxer máscara é-lhes fornecida uma, e explicadas as regras de utilização de espaço, que passa, entre outras, por não poder mexer nas peças, daí serem acompanhadas para o que necessitarem, “sem que ninguém pergunte nada a ninguém”, ressalva, a secretária-geral da Santa Casa.

Esta é, também, uma forma diferente de celebrar os santos populares. Recorde-se que a cidade, se não fosse a pandemia, estaria, nesta altura a viver a sua tradicional Feira de São João e São Pedro.

“Achámos que seria interessante dar o mote esse mote a esta iniciativa, tendo em conta que é uma altura do ano, os santos populares, que diz muito à nossa comunidade”, enquadra, ainda, a responsável.

Voluntários e comunidade “não falham”

Nas primeiras horas, a afluência foi generosa, tendo levado à reposição de bens, com recurso à loja social que, por estes dias, acaba por ser a retaguarda do jardim.

“Na primeira edição, ficamos surpreendidos com o número de pessoas que acederam ao espaço e com o número de peças que foram retiradas do estendal. Estou a falar de alguns milhares de peças que doamos. Por isso, preparamos a nossa logística para um número superior a esse, até pelo momento que estamos a viver”, diz Ana Talhinhas.

Se as doações estão a crescer, constata a instituição, também é verdade que a comunidade sabe ser solidária. “Há uma resposta muito positiva por parte da comunidade e dos Irmãos da Santa Casa”, alude, sublinhando que “nunca deixámos de doar uma peça por não termos.”

Entre os técnicos que gerem a loja social e os voluntários que “nunca falham” nestas iniciativas, estes três dias prometem alguma azáfama, acompanhada de muito calor e algum cansaço à mistura, mesmo assim, vale a pena fazer o apelo.

“Gostaria de dizer que a Misericórdia está aqui, neste espaço, até quinta-feira, por isso, venham, pois encontrarão algo que esteja a fazer falta”, convida a responsável, lembrando, contudo, que a instituição, “ao longo de todo o ano, põe em prática a sua missão de ajudar os mais carenciados, tendo a porta aberta, todos os dias, aqui, ao lado deste jardim do Paraíso, na cidade de Évora.”

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