19 jun, 2020
Não é segredo para ninguém que a vamos ter que enfrentar um período de grande turbulência na economia, de que os primeiros efeitos se começaram a sentir desde Abril. E, quando menciono “vamos”, refiro-me não só a Portugal como a todo o globo. No caso português, devemos contar, para este ano, com um quebra de cerca de 10% no PIB, ou seja, nos rendimentos gerados pela economia, um aumento da taxa de desemprego para cerca de 10% da população activa e um défice das finanças públicas que só muito dificilmente se conterá nos 6.3% do PIB previstos de acordo com o orçamento suplementar.
Para além das consequências sociais do aumento do desemprego e da quebra de rendimentos, salta à vista a debilidade da situação portuguesa face ao nível de endividamento do Estado e, simultaneamente, ao nível de endividamento da nossa economia face ao exterior.
Se o Banco Central Europeu continuar com a política de aquisição de títulos dos estados, teremos boas perspectivas em termos de necessidades imediatas de financiamento do Estado. Mas o facto do BCE comprar os títulos não impede que a dívida pública aumento nesse mesmo montante, embora - espera-se - com juros baixos. Por outro lado, a quebra do PIB aumenta aritmeticamente (e não é pouco) a percentagem da dívida sobre o PIB. Ou seja, a dívida pública portuguesa a partir do início de 2021 irá constituir, de novo, uma condicionante muito apertada sobre a nossa economia, que aumentará as pressões comunitárias para obrigar Portugal a seguir uma política de austeridade – o que a suceder , nas condições da economia portuguesa previsíveis para o início de 2021, seria um desastre de grandes proporções .
Joga-se assim, nos próximos nove ou doze meses, o nosso futuro a médio/longo prazo. Seria bom que os partidos políticos fizessem tudo o que está ao seu alcance para encontrar convergências que permitam uma resposta verdadeiramente nacional a este enorme desafio.