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Padre Feytor Pinto e a primeira visita de João Paulo II a Portugal. “Foram os quatro dias mais felizes da minha vida”

18 mai, 2020 - 13:05 • Aura Miguel

Aos 88 anos, o padre Vítor Feytor Pinto recorda com emoção, em entrevista à Renascença, aqueles dias inesquecíveis e garante que o Papa polaco “era um homem de oração, com uma paixão por Nossa Senhora e um grande sentido de humor, como os grandes santos têm”.

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Organizou a 1ª visita do Papa João Paulo II a Portugal, em 1982 e acompanhou-o de perto em todas as suas etapas.

Aos 88 anos, o padre Vítor Feytor Pinto recorda com emoção, em entrevista à Renascença, aqueles dias inesquecíveis e garante que o Papa polaco “era um homem de oração, com uma paixão por Nossa Senhora e um grande sentido de humor, como os grandes santos têm”.

Que recordações guarda dos encontros que teve com João Paulo II?

O meu encontro com ele foi fabuloso e sublinho três notas que considero mais interessantes. A primeira é que o Papa João Paulo II deu-me o lugar ao pé dele, em diversas atividades, concretamente, nos helicópteros, na viagem de comboio entre Lisboa e Braga, passando por Coimbra, eu estava sempre ao lado do Papa. E o secretário do Papa tinha-me dito: "Não fale, espere que o Papa possa dizer alguma coisa, se precisar de alguma coisa ele diz-me e eu digo-lhe a si, para a proporcionar ao Papa."

E não conversaram?

Os dois, pessoalmente, não conversámos. Mas, sabe, foi muito bonito, porque o secretário - que depois viria a ser o cardeal arcebispo de Cracóvia [Stanislaw Dziwicz)] - disse-me: "Não fale com ele, porque ele está em contemplação,".Eram momentos de uma paz extraordinária.

Mas teve ocasiões em que falou com ele?

Sim. Uma delas foi na Nunciatura Apostólica, na noite de 13 de maio. O episódio é fabuloso. Um monsenhor, que agora é cardeal e de quem não recordo o nome, estava sentado entre o Papa e eu. Então, afastou-se da mesa e disse-me: "O Papa quer falar consigo em português, para poder treinar o português." Para mim, foi um momento de um grandeza enorme. E perguntei-me a mim próprio: "O que é que eu hei-de dizer ao Papa?". Então, disse: "Santidade, esta noite, uma vez que houve aquele atentado do Padre Khron para tentar agredi-lo, nós, os da pastoral juvenil, estivemos toda a noite em oração por Vossa Santidade". E ele comentou : "Eu também reparei nisso e fui à janela rezar por vocês." O Cardeal Casaroli estava em frente ao Papa e disse-lhe: "Santidade, também me telefonaram da Secretaria de Estado a dizer que durante a noite inteira estiveram em oração por Vossa Santidade, por este mesmo motivo". O Santo Padre, deitou-se para trás na cadeira e disse: "Finalmente que, na Secretaria de Estado, se reza!" Tinha um sentido de humor absolutamente extraordinário.

E o terceiro momento sobre João Paulo II?

Foi em Vila Viçosa e em Fátima. Em Viçosa, tínhamos receio que nos acolhessem mal, devido aos problemas políticos e tensões da época, naquela região. Então, acompanhei o Papa, a pé, até ao Santuário de Nossa Senhora, Rainha de Portugal. Foi um momento muito bonito, pois o Papa transfigurava-se, sempre que estava diante de Nossa Senhora. A sua paixão por Maria revelava uma espiritualidade profunda. Aqueles 40 minutos em que o Papa esteve de joelhos diante da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, antes de ir falar na inauguração do Centro Paulo VI, foram momentos sublimes de um silêncio total, no Santuário e em todo o lugar.

O que aprendeu pessoalmente com o Papa João Paulo II? O que reteve de mais importante para a sua vida de padre?

Aprendi, sobretudo, a fidelidade ao Espírito Santo, à missão que ele tinha. Uma missão que se estende a todos os bispos e a todos os sacerdotes, numa comunhão total. Foi o que senti e considero-o um desafio para a minha fidelidade, para o meu amor à Igreja, para a minha perspetiva de trabalhar, também eu até ao fim da minha vida.

Obrigada, Padre Vítor Feytor Pinto, por nos ter falado, com o coração, sobre João Paulo II...

Ainda quero dizer uma coisa muito bonita: aqueles quatro dias em 1982 foram, desde então até hoje, os melhores dias da minha vida!... Até estou comovido.

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