Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Covid-19

Diretor de Infeciologia do S. João admite estudo sobre sequelas em recuperados

09 mai, 2020 - 11:51 • Lusa

O Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João é onde se concentra o maior número de infetados pelo novo coronavírus em Portugal. Sequelas pulmonares são as mais prováveis, diz especialista.

A+ / A-

Veja também:


O diretor do Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, admite avançar com um estudo científico sobre as sequelas que a Covid-19 deixou nos doentes recuperados, em colaboração os centros de saúde.

Em declarações neste sábado à agência Lusa no âmbito do acompanhamento de doentes com Covid-19 que tiveram alta hospitalar, António Sarmento demonstrou vontade em iniciar um estudo científico sobre as “cicatrizes” e “sequelas” que a doença do novo coronavírus deixou nos doentes que passaram naquela unidade.

“Teria interesse em termos investigacionais (…) quando as coisas acalmarem, nós chamarmos ou convocarmos alguns dos doentes, para fazermos um estudo científico e interesse da comunidade, e realmente com meios que o médico não tem no seu centro de saúde, já para avaliar a percentagem de sequelas que existiu e quais foram [essas sequelas)”, disse o infeciologista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O médico e investigador referiu, todavia, que não pode assegurar que todos os doentes vão ser seguidos no Hospital de São João sejam chamados, até porque a maioria que teve a doença está “bem”.

O estudo dos doentes de “forma sistemática” e com “metodologia científica” seria feito “em “colaboração com os médicos de família e com o hospital”, acrescentou o especialista.

As sequelas das doenças geralmente manifestam-se ao fim de semanas ou mesmo meses, explica António Sarmento.

A desafiante recuperação da Covid-19, uma "doença artificiosa"
A desafiante recuperação da Covid-19, uma "doença artificiosa"

No caso da Covid-19 – uma doença que, sublinha, é “nova” e "desconhecida” – é “impossível, para já, no mundo alguém dizer, seja na América, seja cá, com que sequelas as pessoas vão ficar”.

“Não sabemos”, assume António Sarmento, reconhecendo, todavia que é “provável que fiquem com as sequelas duma pneumonia”, sendo que as “mais prováveis” “serão sequelas pulmonares à semelhança de outras infeções pulmonares e que podem aparecer ou não doentes.

O diretor do Serviço de Infeciologia do São João do Porto ressalva ainda que há “sequelas de cuidados intensivos” que são “comuns a qualquer patologia que obrigue a internamento em cuidados intensivos”, mas que depois são “reversíveis”.

Uma pessoa que esteve parada, sedada e ligada a um ventilador pode ter “sequelas neuromusculares”, “sequelas pulmonares” e podem ser “sequelas psiquiátricas ou psicológicas”, e, por esses motivos pode sentir “atrofias musculares”, “cansaço brutal”, “falta de forças”, “stress pós-traumático”, que tem a ver com uma sedação prolongada, descreveu.

Segundo António Sarmento, o CHUSJ não tem capacidade para seguir todos os doentes internados no Serviço de Infeciologia, no pós alta hospitalar.

“Nós estamos, neste momento, a ter talvez a melhor mortalidade da Europa, com resultados muito bons à custa do esforço brutal que se tem feito que é tratar aqueles casos que iriam morrer (…) e tentarmos o mais possível impedir a propagação na comunidade”.

“Numa altura de emergência, com dezenas ou centenas de doentes a aparecerem nos hospitais e com outros doentes em situação não Covid que estão a ser tratados, não podem os hospitais assegurar tudo e mais alguma coisa. As tarefas têm se de dividir”, acrescentou, assumindo que no São João se assegura o tratamento na doença ativa, internando se for grave, e menos grave acompanhando no domicílio.

Numa segunda fase, o acompanhamento tem de ser feito pelo médico do doente.

“O Hospital São João faz o acompanhamento dos doentes enquanto eles estão positivos em casa. Telefonando de dois em dias, falando com a pessoa, mas depois quando os testes dão negativo e deixam de ter a infeção aguda os doentes passam a ser seguidos pelo médico assistente [médico de clínica geral, médico de família], porque os hospitais são “uma parte apenas do Sistema Nacional de Saúde”.

Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (639), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (233), do Centro (214), Algarve (13), dos Açores (14) e do Alentejo que regista um caso, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24h00 de quinta-feira, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+