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Coronavírus

Portugal pode ter registado quatro mil mortes em excesso durante pandemia de Covid-19

27 abr, 2020 - 20:24 • Redação com Lusa

Autores do estudo consideram que excesso de mortalidade de março e de abril “não pode ser comparado com fevereiro, nem sequer com os anos homólogos, mas deve antes ter como referência os meses de férias”.

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O excesso de mortalidade em Portugal desde o início da pandemia de Covid-19 pode chegar aos 4.000 óbitos, segundo um estudo publicado na revista científica da Ordem dos Médicos.

De acordo com o estudo, que analisou o período entre os dias 1 de março e 22 de abril, o número de mortes registado em Portugal pode chegar a um valor que representa quase cinco vezes mais do que os atribuídos à Covid-19, que esta segunda-feira se fixavam em 928, segundo os dados oficiais.

Os autores do trabalho, especialistas do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública e do Instituto de Saúde Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, lembram que o excesso de mortalidade de março e de abril “não pode ser comparado com fevereiro, nem sequer com os anos homólogos, mas deve antes ter como referência os meses de férias”, em que há uma redução de atividade e circulação de pessoas e, logo, uma queda da mortalidade por acidentes de viação.

“O estado de emergência em que Portugal tem estado levou a várias medidas restritivas com impacto, por exemplo, na redução da mortalidade por acidentes de viação ou de trabalho e também a uma quebra no número de outras infeções características desta época do ano ou de alturas de menor isolamento social, que devem ser descontadas dos resultados analisados”, considera António Vaz Carneiro, um dos autores.

Para Vaz Carneiro, “o número de mortes a mais identificadas é ainda maior do que se pensava, ao não se considerar esta quebra nos óbitos na estrada ou de trabalho”.

Já no início do mês de abril, em entrevistaà Renascença, o primeiro-ministro António Costa admitia uma subnotificação da infeção por Covid-19 nos óbitos registados em março.

Os dados agora divulgados são superiores aos estimados na semana passada no Barómetro Covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública, que apontou um excesso de mortalidade de 1.255 óbitos, mas apenas para o período entre 16 de março e 14 de abril.

Confrontada com estes dados da ENSP na semana passada, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, disse que considerando o período desde o início do ano até 21 de abril o excesso de mortalidade se ficava pelos 439 óbitos relativamente à média do mesmo período nos cinco anos anteriores.

Para o trabalho agora publicado na Ata Médica, a revista científica da Ordem dos Médicos, os autores utilizaram bases de dados públicas para estimar o excesso de mortalidade por idade e região, entre os dias 01 de março e 22 de abril, propondo níveis ajustados ao período de estado de emergência em vigor. As conclusões apontam para um excesso de mortalidade entre 2.400 e 4.000 mortes.

Tal como no estudo da ENSP, este trabalho indica que o excesso de mortalidade se encontra sobretudo associado aos grupos etários mais idosos (idade superior a 65 anos). Os números absolutos indicam mais mortes nos distritos de Aveiro, Porto e Lisboa, o que está em linha com as áreas com mais doentes diagnosticados com covid-19 e também com maior densidade populacional.

“Se a análise dos números for feita em termos relativos não há diferenças regionais significativas, ainda que se verifique uma tendência para maior excesso de mortalidade nos distritos mais envelhecidos”, sublinham.

O estudo avança ainda alguns números preocupantes e que podem justificar estes óbitos em excesso: entre 1 de março e 22 de abril houve menos 191.666 doentes com pulseira vermelha nos hospitais, menos 30.159 com pulseira laranja e menos 160.736 com pulseira amarela.

Tendo como referência a mortalidade nas 24 a 48 horas após a admissão nos hospitais antes da pandemia, “estas quebras correspondem a um potencial de pelo menos 1.291 mortes, sendo 79 em doentes triados com pulseira vermelha, 1.206 com pulseira laranja e 6 com pulseira amarela”, indica.

Num comentário a este estudo, o bastonário da Ordem dos Médicos lembra a urgência de criar “uma ‘task-force’ que funcione de forma articulada e que olhe rapidamente para estes dados para poder redesenhar a resposta” aos doentes.

Em relação às causas, os dados sugerem uma explicação tripartida para o excesso de mortalidade: mortes por covid-19 identificadas pelas autoridades, mortes por Covid-19 mas não identificadas e diminuição do acesso a cuidados de saúde.

Neste estudo, o número de mortos não-Covid em excesso foi quatro a cinco maior do que os óbitos atribuídos à doença provocada pelo novo coronavírus.

“Para qualquer plano futuro imediato do Serviço Nacional de Saúde, temos de passar da gestão de risco da infeção covid, para uma gestão de risco global (covid e não-covid) para evitar este excesso dramático da mortalidade”, considera António Vaz Carneiro.

Comentários
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  • ADISAN
    28 abr, 2020 Mealhada 15:51
    Claro que houve mortes não directamente provocadas por Covid-19, mas indirectamente, uma vez que se cometeu o erro de, por causa da pandemia, anular todas as consultas e exames marcados anteriormente, como se estes fossem totalmente desnecessários. Apesar de ser um inculto na matéria, percebi desde início que, por causa do coronavírus, se negligenciou as restantes doenças e os afectados com elas, como se estes tivessem marcado consultas apenas por gostarem de dar trabalho aos médicos. Agora dizem que são os doentes que ganharam medo de ir a consultas. Depois do que se passou, perderam foi a confiança nos Serviços de Saúde (melhor dizendo, de doença).
  • João Nogueira
    28 abr, 2020 Ajaccio 10:55
    Claro que com o medo, as restrições, o confinamento, etc... o número de óbitos aumentaria, por outras causas que não o covid 19.
  • Agostinho Couto
    28 abr, 2020 linden 01:37
    Pois e o problema e que os que estao a frente do pais nao aprenderam ,,matematica e pelos vistos ainda hoje nao sabem contar ,,fazer contas , nem talvez a ,,tabuada , possivelmente , passam a vida a dizer o que se passa na America mandam para la ,batalhoes de jornalistas , reporteres , para dizer o ,,piorio do Trump e do seu governo , e com isso la vao tentando imcobrir o que realmente se passa dentro do pais ,,dentro de portas , ,, assim os numeros serao sempre ,,,fofinhos , , ate que rebente a bomba e toda a verdade se saiba , ontem ja era tarde demais

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