23 abr, 2020 - 10:20 • Olímpia Mairos
Otávio e Adélia são emigrantes em França. Vieram de férias poucos dias antes da Páscoa e não sabem quando vão regressar. A indefinição prende-se, por um lado, com a crise pandémica nos dois países e, por outro, com a ausência de trabalho.
O casal trabalhava numa empresa de limpeza de vidros. Encerrou como tantas outras, devido à Covid-19. “Soubemos a triste notícia já em Portugal”, conta Otávio com a voz embargada. O emigrante pensa em regressar de novo aos arredores de Paris, onde tem casa própria, mas admite que lhe “falta a coragem para recomeçar de novo”.
Insegurança, apreensão e tristeza são também os sentimentos de Adélia. “Nunca pensei que uma coisa destas nos viesse bater à porta e com 58 anos já não é fácil encontrar trabalho”, conta.
O casal está a fazer tempo para ganhar coragem e também para que termine o estado de emergência em Portugal, mas também em Espanha e em França. “Já viu, se nos metemos ao caminho e depois temos que voltar para trás?”, questiona Otávio, acrescentando que a viagem é dura e mais dura agora, "com esta amargura no peito”.
Por cá, o casal de emigrantes vai dividindo o tempo entre a habitação e o pequeno quintal onde já plantaram “umas árvores de fruto”. Ambos mantêm a esperança de “dias melhores” e acreditam que, “apesar das dificuldades, é possível dar a volta por cima”.
Pandemia da Covid-19
País fica em isolamento social durante praticament(...)
França ficará em total confinamento até ao dia 11 de maio. A partir dessa data, o país começará a voltar à normalidade, de forma progressiva, anunciou o Presidente Emmanuel Macron. A partir de 11 de maio, os estabelecimentos começarão a reabrir e terminará, progressivamente, o período de isolamento social da população. No entanto, Macron garante que se tratará de um processo lento, que começará pelas escolas e creches.
Restaurantes, cafés, museus e hóteis devem permanecer fechados para lá de 11 de maio. Uso de máscara será aconselhado em locais públicos.
Também Rui Coelho trabalhava em França, na construção civil. Quando veio para Portugal já a empresa para quem prestava serviço tinha fechado portas. Foi esse o motivo que o fez regressar, até porque não tinha qualquer vínculo à empresa. “Não vale a pena regressar, não tenho direitos nenhuns e aquilo lá ainda está pior do que aqui”, desabafa.
Os projetos de Rui passam por “deixar acalmar as coisas e tentar procurar trabalho nas obras”. “Sei que não será fácil, mas, pelo menos, tenho o suporte dos meus pais e lá estava sozinho”, conta o jovem à Renascença.
À espera de regressar a Espanha estão António e Conceição. Os dois trabalham num spa, nos arredores de Madrid, que foi obrigado a fechar portas. “Só vamos regressar quando não houver restrições. Não vale a pena ir antes, até porque lá as medidas são bem mais apertadas”, diz António.
Mas se António alimenta a esperança de preservar o trabalho, Conceição tem algumas dúvidas, porque, diz, “os patrões tanto tempo sem fazerem dinheiro, é natural que não voltem a abrir”.
Apesar de os dois estarem sem trabalhar há mais de um mês, garantem que têm “recebido direitinho”. “Sabemos que isto não vai durar muito mais tempo”, atira Conceição. O jovem casal não arrisca datas para a viagem até Madrid, mas afirma que “é vontade dos dois continuar por lá a vida”.