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Oposição de direita vence eleições na Macedónia do Norte

09 mai, 2024 - 00:09 • João Pedro Quesado com Reuters

Coligação liderada por Hristijan Mickovski ficou perto da maioria absoluta no parlamento - o que pode provocar uma marcha-atrás na adesão à União Europeia. As eleições presidenciais, que aconteceram ao mesmo tempo, tiveram resultado semelhante.

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A oposição de direita da Macedónia do Norte obteve uma grande vitória nas eleições legislativas e presidenciais desta quarta-feira. O país dos Balcãs elegeu pela primeira vez uma mulher como chefe de Estado e há uma nova maioria, quase absoluta, no parlamento - que pode ser prejudicial para as relações com os vizinhos Grécia e Bulgária e, por isso, inquinar uma futura adesão à União Europeia.

"Querido povo da Macedónia... nós conseguimos. A Macedónia venceu. Esta é uma vitória histórica do povo", disse o líder do partido de oposição VMRO-DPMNE, Hristijan Mickoski, à multidão em Skopje.

Segundo o "Politico", o VMRO-DPMNE obteve 42,9% dos votos, com 87% dos votos contados nas eleições parlamentares, contra 14,9% do SDSM, o que levou o líder do SDSM, Dimitar Kovacevski, a admitir a derrota.

"O resultado é decepcionante e isto é um grande golpe para o SDSM", disse Kovacevski numa conferência de imprensa na qual também apelou a uma revisão completa do seu partido.

O VMRO-DPMNE está associado ao Partido Popular Europeu, onde estão os portugueses PSD e CDS. Já o SDSM (União Social Democrata da Macedónia) faz parte do Partido Socialista Europeu e integrou a coligação "Por um Futuro Europeu" nestas eleições.

No parlamento, o VMRO-DPMNE obteve 58 mandatos numa assembleia de 120 lugares, ficando a dois deputados da maioria absoluta.

Futuro europeu em causa

Os eleitores do país balcânico de 2 milhões de habitantes ficaram frustrados com o lento avanço da candidatura à adesão à União Europeia, que foi recebida com optimismo em 2005, mas que desde então se tornou um emblema da promessa perdida da Macedónia do Norte. A corrupção duradoura e o desenvolvimento lento também azedaram os eleitores contra o partido no poder.

Contudo, a vitória do VMRO-DPMNE pode complicar o futuro europeu da Macedónia do Norte. O partido vencedor chama de "capitulação" uma proposta do anterior Governo para rever a Constituição do país e reconhecer a existência de uma minoria búlgara na Macedónia do Norte.

A Bulgária pode, assim, voltar a tentar bloquear a adesão do país vizinho à União Europeia, depois de já o ter feito entre 2020 e 2022 - altura em que vetou a abertura das negociações de adesão, acusando a língua macedónia de ser simplesmente búlgaro com outro nome e argumentando que a Macedónia do Norte estava a desrespeitar os laços culturais e históricos com a Bulgária.

A proposta de alteração da Constituição fez parte do acordo entre a Macedónia do Norte e a Bulgária para este país remover o veto à abertura das negociações. Como a alteração na Constituição ainda não foi feita - não existia uma maioria parlamentar para a apoiar -, as negociações estão num impasse, segundo a "Deutsche Welle".

Hristijan Mickoski tem também recusado usar "Norte" quando fala da Macedónia do Norte - apesar desse ser o nome do país desde 2019, depois de um acordo de 2017 que permitiu encerrar a disputa com a Grécia. Os chefes de Governo gregos têm repetidamente reagido sempre que os políticos da Macedónia do Norte não cumprem o acordo.

Presidencias resultam na primeira mulher chefe de Estado

Na segunda volta das eleições para a presidência, para a qual está reservado um papel mais cerimonial, Gordana Siljanovska-Davkova, uma professora universitária que foi apoiada pelo VMRO-DPMNE, derrotou Stevo Pendarovski, atual ocupante do cargo apoiado pelo SDSM, de forma esmagadora. Siljanovska-Davkova teve 65% dos votos contra 29% de Pendarovski, com mais de 87% dos votos contados.

A oposição vai precisar de formar coligações com parceiros mais pequenos para obter a maioria no parlamento. A expectativa é que as discussões ocorram nos próximos dias.

Alguns eleitores manifestaram preocupação com o facto de as tendências nacionalistas da oposição poderem prejudicar as relações com os países vizinhos e a sua candidatura à UE. Citados pela Reuters, analistas não esperam grandes avanços na integração da UE sob a oposição, que manteve o poder até 2017 e também foi criticada por alegada corrupção.

“A adesão à UE não progredirá significativamente sob um potencial governo VMRO-DPMNE”, disse Mario Bikarski, analista da Europa Oriental e Central da consultoria de risco Verisk Maplecroft.

O Instituto Internacional para os Estudos do Médio Oriente e dos Balcãs disse que uma vitória do VMRO-DPMNE pode complicar o processo de adesão europeu, devido à oposição do partido ao acordo com a Grécia.
"O cancelamento de acordos e obrigações internacionais assinadas e ratificadas e a sua renegociação significaria a perda de mais 20 ou 30 anos, e a desistência do caminho euro-atlântico do país", declarou a organização.
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