Terzic, o aprendiz de Klopp e Bilic que tenta vencer os fantasmas do Dortmund

O Dortmund está um passo mais perto de voltar à final Liga dos Campeões, mais de uma década depois e um ano volvido da tarde em que deixou escapar por entre os dedos um título da Bundesliga que parecia garantido. Os méritos são apontados ao jovem treinador Edin Terzic, considerado por muitos o sucessor de Jurgen Klopp.

A vitória da última noite, por 1-0, contra o PSG na primeira mão das meias-finais da Champions deixa o BVB mais perto de chegar à final de Wembley.

A última vez foi em 2012/2013, quando o Dortmund, ainda liderado por Jurgen Klopp, perdeu a final frente ao rival Bayern de Munique graças a um golo atrapalhado de Arjen Robben aos 89 minutos. Um toque esfarrapado na bola desviou-a do alcance de Weidenfeller e decidiu o título.

Klopp deixou o clube para fazer história em Liverpool e o Dortmund não voltou aos mesmos patamares. Quer na Bundesliga, quer na Liga dos Campeões. Mas Edin Terzic pode ser o homem certo no sítio certo para devolver o Dortmund a tempos dourados.

Terzic cresceu como adepto do BVB em Menden, a cerca de 40 quilómetros de distância do Westfalenstadion. Depois de uma discreta carreira como jogador, entrou no departamento de observação do clube em 2010.

Era olheiro de Klopp e trabalhava na formação, mas foi um relatório enviado a Slaven Bilic, na altura selecionador croata, que lhe mudou a carreira. Terzic, com ascendência jugoslava, enviou um dossier detalhado sobre a Irlanda, equipa que a seleção da Croácia iria defrontar no Euro 2012.

Bilic recebeu o ficheiro, reconheceu valor, aproveitou e a Croácia venceu por 3-1. O selecionador até agradeceu publicamente a Terzic na conferência de imprensa após o jogo e, meses depois, levou-o consigo para o Besiktas como adjunto.

Trabalharam juntos até 2017, com uma passagem pelo West Ham. Após o despedimento na Premier League, Terzic decidiu não continuar como adjunto e terminar o curso de treinador.

Regressou a casa pouca depois. Em 2018, integrou a equipa técnica de Lucian Favre, mas acabaria por substituir o francês dois anos depois, a meio de 2020/21. Não existia muita expectativa num jovem treinador que orientava uma equipa principal pela primeira vez na carreira, mas Terzic conquistou a Taça da Alemanha, o primeiro troféu conquistado pelo clube desde 2017.

A direção do Dortmund via em Terzic alguém com uma ligação aos adeptos que não se via desde os tempos de Klopp, mas existia um grande problema: Marco Rose já estava contratado para a temporada seguinte.

Depois de um ano como diretor-técnico, uma função criada para segurar Terzic e afastá-lo do interesse da Premier League, foi novamente nomeado treinador, desta vez definitivamente, no verão de 2022.

Apesar de receber um plantel que ressacava a saída do goleador Erlind Haaland e com o problema oncológico que afetou o seu sucessor Haller durante grande parte da época, o Dortmund subiu à liderança do campeonato e manteve-se por lá até à entrada para a última jornada.

O colapso foi histórico. Uma vitória contra um Mainz com a época resolvida e manutenção garantida seria suficiente para confirmar o título, mas o Dortmund não foi além de um empate. A previsão era de festejo, a realidade foi de lágrimas.

Jude Bellingham, a despedir-se do clube, foi um dos mais devastados e nem Terzic escondeu o choro. A famosa "muralha amarela" não abandonou a equipa e as imagens ficaram igualmente para a história.

"Não há um final feliz para nós, isto foi extremamente doloroso para nós. A dor vai tornar-se em motivação para o amanhã", disse então o treinador.

Terzic - que ao longo dos anos se cruzou com os portugueses Manuel Fernandes, Hugo Almeida, Fonte, João Mário e Raphael Guerreiro - ficou e com funções reforçadas. Tornou-se o principal responsável pelas contratações após a saída de Michael Zorc, que era o diretor desportivo e a cara do projeto há várias anos. Terzic cresceu como figura central do Dortmund, mas sem o sucesso desejado.

O BVB está no 5.º posto da Bundesliga, posição em que deve terminar a época, mas que, ainda assim, permitirá o apuramento para a Liga dos Campeões porque o campeonato alemão garantiu a vaga extra para a prova na próxima temporada.

E é mesmo na Champions que pode estar a salvação da época.

O Dortmund, há muito tempo afastado das grandes decisões, está perto de chegar novamente à final da prova. Está a 90 minutos no Parque dos Príncipes, na capital francesa, de superar o gigante PSG, um projeto que, nas palavras de Terzic, "foi construído para ganhar a Liga dos Campeões".

Na outra meia-final, Bayern de Munique e Real Madrid decidem a outra vaga, num duelo entre candidatos históricos. Na forja, poderá estar uma reedição da final de 2013. Até o palco é o mesmo: Wembley.