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​Médico galego sobre a Covid-19: “Sinto medo”

16 mar, 2020 - 21:31 • José Bastos

Jorge Cameselle alerta para a agressividade do vírus e confessa: “como médico é a primeira vez que sinto medo”.

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O médico galego Jorge Cameselle Teijeiro, conhecido em Espanha por investigações na luta contra o cancro, partilhou uma reflexão sobre a Covid-19 na sua conta privada do Facebook e no início do post comenta. “confesso-vos que, como médico, esta é a primeira vez na vida que sinto medo”.

Este reputado professor universitário galego lembra que quando em dezembro passado, ao conhecer os primeiros dados da doença na China, escreveu no seu mural que este vírus ia mudar o mundo tal como o conhecemos, muitos, e até profissionais de saúde, não levaram o alerta a sério e taxaram a afirmação de exagerada.

“Agora na atualidade, infelizmente, sabemos que esta epidemia irá submeter os sistemas de saúde a um enorme stress. Os técnicos de saúde – prossegue – não queremos palmadinhas nas costas, nem frases grandiloquentes de que somos heróis e outras tretas”, prossegue Jorge Cameselle no post que chamou a atenção da agência EFE.

“Sabemos desde sempre que o nosso trabalho como médicos é importante. Muito importante”, sublinha o médico galego e acrescenta: “mas eu tenho medo, confesso-vos. Medo de contagiar os meus, medo de ver morrer muita gente que não deveria morrer prematuramente”, continua o médico não poupando críticas à “classe política que debilitou o sistema de saúde espanhol”.

Coronavírus na Europa

"Talvez eu possa ser um desses médicos que vai ficar pelo caminho. Só Deus sabe”

Dentro de poucas semanas, continua o Dr. Cameselle, “estou convencido de que a Espanha viverá a explosão da pandemia “nas mesmas proporções que a Itália está a enfrentar”.

Por isso o cidadão galego Jorge Cameselle Teijeiro faz um apelo geral a todos e a cada um dos espanhóis: “Peço-te que sejas consciente da importância de colaborar. Faz um verdadeiro e correto isolamento domiciliário. É urgente e absolutamente necessário. Leva em linha de conta todas as recomendações das autoridades de saúde. A realidade é já muito séria, mas em breve vai ser ainda mais dura e séria”.

De seguida, o médico galego cita casos acompanhados de realidades sociais e humanas muito complexas: “O que fazer quando o doente é idoso e vive só? Quando se convive com doentes dependentes? O que fazer quando quem adoece é o cuidador ou a cuidadora? A Galiza está repleta de idosos com uma taxa elevada de comorbilidades, outras doenças”, recorda Jorge Cameselle Teijeiro.

Feita esta contextualização, o médico insiste: “Faço este apelo com o coração e com a cabeça: isolem-se em vossas casas e organizem-se para sair apenas e exclusivamente para fazer compras. Evitem tocar uns nos outros e lavem as mãos com sabão com muita frequência”.

“Agora vão dar-se conta da razão porque lutávamos por garantir e reforçar um bom sistema público de saúde. Agora muitas destas coisas vão sair à luz do dia, mas chegamos tarde. Talvez eu possa ser um desses profissionais de saúde que vai ficar pelo caminho, ou não. Só Deus sabe”, continua o médico.

“Mas mais de um ou uma de nós irá cair exercendo a nossa bela profissão, que não é outra que não a de proteger a saúde da população”, escreve o clínico.

A terminar o conhecido médico galego Jorge Cameselle Teijeiro despede-se de novo ‘em modo de máxima precaução’: “Oxalá que daqui a uns tempos me acusem de ter sido um exagerado. Mas temo estar a fazer, de novo, um diagnóstico real e objetivo. Oxalá saibamos estar à altura do que aí vem”.

“Ânimo e sorte” são as últimas palavras do longo alerta do Dr. Cameselle.

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