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Como se comporta o coronavírus? Cada vírus pode criar até 100 mil cópias

16 mar, 2020 - 18:59 • Marta Grosso

Um professor norte-americano de doenças infecciosas e outros especialistas explicam à BBC como é que o novo coronavírus, responsável pela doença Covid-19, se comporta dentro do corpo humano e como a resposta do organismo desencadeia uma autência guerra com “danos colaterais”.

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Cansaço, febre e tosse seca são os principais sintomas da Covid-19. Mas o que faz o vírus quando entra no nosso organismo? William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt, nos EUA, explica.

As portas de entrada são os olhos, o nariz e a boca. E uma vez dentro, começa por se ligar “às células da mucosa do fundo do nariz e da garganta". Ddepois, para se multiplicar, vai "sequestrar células".

De acordo com a notícia da BBC, é através das proteínas em forma de lança que se projetam da sua superfície que o coronavírus consegue penetrar na membrana dessas células.

"E uma vez dentro da célula, como os outros vírus, começa a dar ordem para produzir mais vírus", explica o professor norte-americano.

William Schaffner indica que o vírus é um agente infeccioso microscópico acelular, pelo que só se consegue multiplicar dentro das células de outros organismos.

Uma vez que outros vírus estão produzidos, deixam a célula de origem, destroem-na e começam a infetar outras células. Segundo o especialista, cada vírus pode criar entre 10 mil e 100 mil cópias de si.

É nessa altura que o corpo “percebe que o vírus lá está e começa a produzir uma resposta inflamatória para o combater". Sinais dessa reação são “um pouco de dor de garganta e nariz entupido".

A partir daqui, o vírus dirige-se aos “tubos brônquicos [as vias aéreas que vão para os pulmões] e produz inflamação nessas mucosas", o que causa “irritação e, portanto, tosse" , continua Schaffner.

Nessa altura, "a resposta inflamatória do corpo aumenta e a febre aparece". Começamos a sentir-nos mal e o apetite começa a diminuir.

A maior parte dos casos não passa daqui, mas pode dar-se o caso de o vírus "sair do canal brônquico e atingir os pulmões”, provocando pneumonia. É aqui que a situação se agrava.

"Se uma porção suficiente de tecido pulmonar for afetada, será mais difícil para o paciente respirar”. Nesta altura, o doente paciente deve ser hospitalizado e pode ter de ser ligado ligado a respirador.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maioria dos doentes com o novo coronavírus desenvolve sintomas leves da doença (febre e tosse), cerca de 14% revelam sintomas severos (com dificuldade em respirar e falta de ar) e 6% avançam para doença grave (insuficiência pulmonar, choque séptico, falência de órgãos e risco de morte).

Um verdadeiro conflito bélico

O maior problema da Covid-19 é, além da infeção, a maneira como nosso corpo responde – avança, por seu lado, Kalpana Sabapathy, médico clínico e epidemiologista na Escola de Higiene e Medicina Tropical em Londres, à BBC.

"Para evitar que a infeção sequestre as nossas células, o nosso corpo produz substâncias químicas bastante agressivas", refere. E, em caso de pneumonia, o vírus “cria congestão nos pequenos sacos de ar na base dos nossos pulmões” – os alvéolos, pequenas estruturas que normalmente se enchem de ar e onde é feita a oxigenação do sangue, distribuindo o oxigénio pelo resto do corpo.

"Mas se essas bolsas estão cheias de infeção, combinadas com a resposta do nosso corpo a essa infeção, elas têm menos capacidade de ar", diz Sabapathy. "E se o corpo não recebe oxigénio suficiente, fica em insuficiência respiratória e o coração , sem oxigénio suficiente pela corrente sanguínea, não pode funcionar".

Schaffner compara a resposta inflamatória a uma guerra: “Existem dois exércitos que lutam entre si, mas às vezes as bombas atingem civis.” Ou seja, a resposta pode ser tão poderosa, que acaba por danificar o tecido onde o vírus é encontrado.

Assim, a infeção não precisa de passar para outra parte do corpo para que uma pessoa infetada fique em estado crítico.

Mas pode o coronavírus espalhar-se para outras partes do corpo?

Um estudo (inconclusivo) publicado em março na prestigiada revista científica “The Lancet” sugere que a Covid-19 "pode causar danos a outros órgãos, como coração, fígado e rins, assim como em sistemas corporais como o sangue ou o sistema imunológico".

William Schaffner, o professor norte-americano de infecciologia, também considera que, com base em estudos realizados sobre a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, uma doença provocada por outra estirpe de coronavírus), a Covid-19 “pode alastrar-se a outras partes do corpo”.

Isso pode explicar em parte que alguns pacientes infetados sofram de diarreia e dor abdominal, problemas não associados a uma infeção respiratória normal.

Mas, para se chegar à conclusão de que outros órgãos podem ser afetados, será preciso "conhecer os resultados das autópsias e essas informações ainda estão só a começar a ser reveladas", diz Schaffner.

E o longo prazo?

Quanto a efeitos de longo prazao no organismo, o professor no Centro Médico da Universidade Vanderbilt (EUA) diz que a grande maioria dos pacientes tem uma recuperação completa.

Ainda assim, há "alguns relatos de pacientes que, como consequência da inflamação, poderão ter algumas cicatrizes nos pulmões e uma função pulmonar reduzida".

Para já, é cedo para falarmos de consequências. "Levará tempo para determinar os efeitos com mais precisão".

"Ainda não tivemos tempo para pensar no longo prazo", conclui.

Tem dúvidas sobre o coronavírus? Deixe-nos as suas perguntas aqui e os especialistas de saúde pública respondem em antena e no digital da Renascença.

Comentários
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  • Desabafo Assim
    16 mar, 2020 21:29
    Uma besta 14 dias a carregar, um verdadeiro predador

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