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Paulo Portas: “o politicamente correto é a maior fábrica de trumpistas”

11 mar, 2020 - 15:20 • Paula Caeiro Varela

O ex-líder do CDS diz que não adianta governar para os “likes”. Sugere “fazer o que se deve e ter a consciência tranquila”.

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Paulo Portas disse esta quarta-feira que a moda do politicamente correto é a maior responsável pelo populismo.

O antigo líder do CDS abriu o segundo dia da convenção do Movimento Europa e Liberdade com um cumprimento a Pedro Passos Coelho, que estava na assistência e que mereceu uma salva de palmas.

Depois, elaborou longamente sobre globalização e desglobalização, tema da sua intervenção, insistindo em particular num tema, o das migrações na Europa. Quem vem para a Europa tem de aceitar os valores europeus.

Preocupado com a "democracia digital", que não tem passado, e com os "reitores morais" de tudo o que se escreve e diz, Portas pediu que haja um módico de moderação e de coragem, ou isto vai ser a ditadura de governar para o "like".

A política de migração na Europa – ou a falta dela – foi o mote para a tirada de Paulo Portas que, fiel ao princípio de não falar de política nacional, deixa recados que também servem à política nacional.

A Europa tem de ser capaz de escolher uma política migratória que lhe convenha, até porque a curva demográfica o exige, mas que também a dignifique, sublinha o antigo líder do CDS. E isso pressupõe a coragem de dizer que quem quer vir para a Europa tem de aceitar os valores europeus.

Paulo Portas exemplificou: "passa-nos pela cabeça na Europa secundarizar o papel da mulher? É para nós indiferente que um púlpito religioso possa ser usado para promover a violência?"

O antigo líder do CDS considera que são os líderes do centro, da esquerda e da direita moderadas, que têm de ser capazes de fazer este discurso, que requer um "módico de coragem que a ditadura do politicamente correto praticamente remove".

Aliás, acrescentou, "estou convencido de que a maior fábrica de trumpistas é o politicamente correto porque as pessoas não aguentam este controlo sobre o que pensam, sobre o que dizem, sobre o que escrevem. Quem são estes reitores morais da nossa forma de falar, da nossa forma de pensar ou da nossa forma de escrever".

Mais à frente, uma conversa com Pedro Passos Coelho quando ambos partilharam responsabilidades de governação, voltou a ser o centro de um raciocínio sobre os perigos de governar para o clique em tempos de "democracia digital.

O que está a acontecer na Europa é a "substituição da democracia clássica pela democracia digital, onde não há passado nem futuro, só há presente".

Mais grave ainda do que essa ausência de passado no digital que faz com que os mais jovens nem saibam de onde vêm, são as "efervescências sucessivas do presente, que nem sequer tem 24 horas, são minutos". E questionou como se discute, por exemplo a sustentabilidade da segurança social, quando não se tem sentido de longo prazo.

Foi neste ponto que recordou essa ideia trocada com o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, sobre o tempo que os governos gastam a tratar do que é essencial e quanto tempo gastam a tratar do que é urgente, para concluir que o urgente invadiu as agendas políticas.

"Cuidado", avisou o democrata-cristão, que considera que nesta democracia digital o pior da natureza humana é colocado no centro do discurso político, com "vanguardas digitais a quererem impor agenda radicalizadas aos sistemas políticos".

Preocupações que Paulo Portas resumiu numa frase, no final da intervenção de quase uma hora: "está muito na moda governar para os likes, eu acho que governar às vezes gera likes e outras vezes gera não likes, é fazer o que se deve e ter a consciência tranquila".

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