Médicos do Mundo alertam. "Atacar pessoas que fogem da guerra questiona o próprio conceito de humanidade"

Médicos do Mundo alertam. "Atacar pessoas que fogem da guerra questiona o próprio conceito de humanidade"

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10 mar, 2020 - 08:28 • Redação com agências

Há notícia de confrontos na zona, com as polícias de ambos os países a lançarem gás lacrimogéneo e bombas de fumo, enquanto os migrantes respondem atirando pedras e paus.

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“Tratar as pessoas que fogem da guerra desta maneira não está à altura do Ser Humano. Não são apenas os barcos que estão a afundar, é o próprio conceito de humanidade.” O alerta é deixado pela diretora executiva da Médicos do Mundo da Grécia face à situação que se viva na fronteira entre a Turquia e a Grécia.

A Grécia enfrenta uma pressão nas suas fronteiras externas com a Turquia, depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter decidido ‘abrir as portas’ aos refugiados que pretendem rumar à Europa, numa tentativa de garantir mais apoio ocidental na questão da guerra na Síria.

A União Europeia e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se compromete a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira num valor total de seis mil milhões de euros para financiar o acolhimento dos refugiados, especialmente os sírios que fogem da guerra.

Nesta altura, a Turquia acolhe cerca de 3.6 milhões de refugiados da Síria, no âmbito desse acordo.

Através de um comunicado enviado à redação, a organização considera que a “administração continental mostrou a sua pior face”. “Tanto as autoridades turcas, que usam aqueles que sofrem para colocar pressão sobre a União Europeia, como as gregas, anulam ilegalmente o direito de asilo, assim como UE, que tem permitido a violação de tratados internacionais que deveria garantir.”

Para os Médicos do Mundo, a decisão grega em suspender o direito de asilo é desumana e ilegal, põe em perigo vidas humanas e expõe o país a sanções internacionais. “Esta legislação deve ser retirada imediatamente. Devemos parar de enviar as pessoas de volta a lugares onde suas vidas estão em perigo", diz Eugenia Thanou, diretora executiva desta organização na Grécia.

“O resultado é que as pessoas presas nas fronteiras da Europa foram atacadas e injustamente tratadas. Mesmo que quisessem entrar na Grécia legalmente, ninguém lhes oferece essa real possibilidade. Muitos vêm da parte norte da Síria, que foi a mais atingida pelo aumento da guerra, mas migrantes de outros países - como Somália, Sudão, Afeganistão ou Irão - também estão a chegar à costa do Mediterrâneo”, relata a nota.

Para os Médicos do Mundo, a retórica do “escudo” mantida pela Comissão Europeia não ajuda neste cenário. “Seria mais útil estabelecer mecanismos urgentes, justos e racionais para o reassentamento noutros países da UE dos requerentes de asilo que estão na Grécia.”

A organização defende ser urgente atender às necessidades humanitárias tanto dos que chegam da costa da Grécia quanto aos que permanecem nos centros sobrelotados das ilhas. “A situação é de extrema necessidade, especialmente para crianças”, sublinha.

Esta semana, a Alemanha apela a uma coligação de boa vontade, a nível europeu, para que vários países voluntários recebam cerca de 1.500 crianças migrantes atualmente em campos nas ilhas gregas.

A situação tensa despertou na Europa a memória da crise migratória de 2015.

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