22 fev, 2020
“A TAP está no bom caminho”, segundo Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração (não executivo) desta empresa. Estará mesmo?
As dúvidas são várias. Primeiro, temos a decisão inaceitável da Venezuela de impor uma suspensão de 90 dias aos dois voos semanais da TAP para Caracas. Esta suspensão custará pelo menos dez milhões de euros. Quem os pagará?
Depois, a TAP fechou o ano passado com um prejuízo de 105,6 milhões de euros, valor apenas ligeiramente inferior aos 118 milhões registados em 2018. Prejuízos que preocupam o Governo. O ministro Pedro Nuno Santos declarou que não iria permitir que, com estes prejuízos, fossem pagos prémios de desempenho a alguns trabalhadores, que era a intenção da gestão executiva.
A administração executiva da empresa contrapõe que investiu mais de 1,5 mil milhões de euros na renovação e aumento da frota de aviões (o que em 2019 teve um custo de 55 milhões de euros). E a TAP afirma ter investido, também, em maior pontualidade e regularidade da operação. A empresa transportou em 2019 mais 8% de passageiros e conseguiu que o custo por quilómetro desse transporte baixasse 9% em 2019, graças a possuir aviões mais eficientes.
Estava previsto que prosseguiria a renovação da frota, passando dos atuais 707 aviões para mais 73 até 2025. Só que, afinal, a administração da TAP ameaça parar de investir. Motivo: a falta de intervenções modernizadoras no aeroporto Humberto Delgado por parte da ANA (a TAP não utilizará o futuro aeroporto do Montijo).
“Mais de metade do ano estamos limitados por restrições operacionais que existem na Portela. Não estamos disponíveis para continuar a investir em aviões e contratação de pessoal”, disse, indignado, Antonoaldo Neves, CEO da TAP (principal administrador executivo), que considerou a Portela “o pior aeroporto do mundo e vai piorar no próximo ano e no seguinte”. E acrescentou: “Estou há dois anos na TAP e nada foi feito no aeroporto Humberto Delgado”.
Prejuízos são, infelizmente, algo a que TAP nos habituou, desde que a descolonização lhe tirou os mercados protegidos das ex-colónias. Depois de várias tentativas falhadas, o governo do PSD-CDS privatizou a TAP em 2015. O governo da “geringonça” reverteu essa privatização e o Estado português passou a deter 50% do capital da TAP. Mas ficou fora da gestão corrente da empresa... Agora, os dois grandes acionistas da empresa insultam-se publicamente. Não é uma situação sustentável.