21 fev, 2020 - 18:15 • José Pedro Pinto
Até a Álvaro Magalhães está a custar a acreditar nestes números: 11 golos sofridos pelo Benfica nos últimos quatro jogos, sintoma mais evidente das três derrotas naquela que é a pior série da temporada dos encarnados e, ao todo, na era Bruno Lage.
A derrota em Kharkiv, diante do Shakhtar Donetsk (2-1), para a primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa, adensou a crise de resultados, mas também de exibições das águias. O antigo defesa internacional português, com carreira umbilicalmente ligada ao Benfica, não podia ir mais direto ao assunto.
"A forma como o Benfica sofre golos é de uma grande infantilidade. Há que trabalhar esse aspeto, porque não é um problema só dos defesas. A melhor defesa começa no ataque e o melhor ataque é a melhor defesa, como se costuma dizer. Todos têm que estar imbuídos nesse espírito. Numa perda de bola, têm de estar todos preparados para uma recuperação mais rápida e há ali falhas defensivas e imensos passes de equipa infantil. Em alta competição, não pode acontecer. Falta de concentração, mau posicionamento, o que obriga a que a equipa fique completamente partida. São falhas que o Benfica tem de corrigir imediatamente. Com a qualidade de jogadores que o Benfica tem, há golos que não se podem sofrer", aponta, em declarações a Bola Branca.
Ainda assim, parte da explicação vai igualmente para o contexto emocionalmente delicado que a equipa atravessa.
"São ciclos que as equipas têm durante uma temporada. Esta fase não tem sido positiva e há que dar a volta. É preciso pensar, dialogar e corrigir o que tem estado menos bem. O Benfica está a atravessar um mau momento de resultados e, em termos exibicionais, também não tem sido aquilo que já demonstrou. A parte psicológica é fundamental nos grandes jogadores para conseguirem ter sucesso e as grandes equipas têm de estar preparadas para momentos menos bons. Mas, nesses momentos, os maus resultados não se podem aglomerar de semana para semana. Há uma falha e tem que se dar a volta logo no jogo seguinte e, neste momento, isso não se está a conseguir", prossegue.
Quanto ao papel de Bruno Lage, que há quatro jogos tem vindo a admitir as falhas defensivas que têm custado pontos, vitórias e estabilidade, Àlvaro Magalhães recorda o passado como adjunto de Jose Antonio Camacho e Giovanni Trapattoni para transmitir ao técnico que terá de fazer algo mais.
"Já fui treinador do Benfica, já passei por esses momentos difíceis no Benfica no tempo do Camacho e do Trapattoni e nós conseguimos trabalhar a equipa de forma a que não criasse dificuldades à estrutura defensiva. Contudo, uma equipa vale pelo seu todo. Os jogadores têm de estar todos concentrados nesse aspeto, porque não são só os defesas que têm que defender. É um trabalho diário. Quem trabalha com a equipa é que pode dissipar os problemas defensivos do Benfica", assinala.
Álvaro Magalhães não concorda que a quebra recente do Benfica tenha começado com a derrota diante do FC Porto (3-2), no Dragão. É, isso sim, o segundo desaire consecutivo na I Liga, em casa, diante do Braga (0-1) que leva o treinador a traçar uma linha que separa o passado e o presente.
"O Benfica perdeu o jogo contra o FC Porto mas é normal ganhar, empatar ou perder contra equipas grandes. É bom ganhar sempre, mas não é com essas equipas que se ganham campeonatos, é com as mais pequenas. Perder, passado uma semana, com o Braga em casa é que foi mau. Posso dizer que o Benfica foi infeliz nesse jogo, porque criou oportunidades de golo, podia ter marcado dois ou três golos na primeira parte, mas quem não marca, sofre. O Braga foi lá uma vez e fez um golo e isso enervou um pouco a equipa. Na segunda parte, houve realmente um certo nervosismo. Ainda se criaram algumas oportunidades para marcar golo, mas o Benfica acabou por perder e isso deixa marcas", frisa.
A derrota frente ao Shakhtar Donetsk também preocupa Álvaro Magalhães: "Este jogo da Liga Europa deixa marcas, também, porque é sempre uma derrota, mesmo que seja por 2-1 e haja possibilidade de dar a volta em casa. Mas não deixa de ser uma derrota."
Após quatro jogos sem vencer, o regresso ao campeonato marca o encerramento da jornada 22. Já depois de o FC Porto jogar, domingo, em casa, com o Portimonense, o Benfica vai ao Minho defrontar um estável Gil Vicente.
"Eu conheço bem aquela casa [Álvaro Magalhães orientou o Gil entre 1998 e 2000]. É um clube fantástico e uma equipa de grandes valores. O Gil Vicente construiu uma equipa com jogadores de grande qualidade. O Vítor Oliveira e a própria estrutura tiveram tempo para construir uma equipa de grande qualidade e estão a demonstrá-la. E, em casa deles, é sempre difícil. O Benfica não pode perder mais pontos, tem que ganhar. Se não ganhar ao Gil Vicente, as coisas podem complicar-se", alerta.
O Gil Vicente-Benfica arranca às 19h30 de segunda-feira, com arbitragem de Luís Godinho e João Pinheiro como VAR. Jogo com relato na antena da Renascença e acompanhamento em rr.sapo.pt.