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Cobertura “perigosa e irresponsável” dos incêndios na Austrália leva diretora comercial da News Corp a demitir-se

10 jan, 2020 - 09:32 • Redação com Lusa

Emily Townsend acusa os jornais do grupo de ignorarem o perigo real das alterações climáticas e de tentarem promover uma ideia infundada de que os incêndios que assolam o país têm origem criminosa.

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A diretora comercial da News Corp, um grupo de comunicação social norte-americano cujo principal acionista é o magnata Rupert Murdoch, demitiu-se esta sexta-feira depois de denunciar a cobertura “perigosa e irresponsável” que os jornais da instituição têm feito dos incêndios na Austrália.

Num email enviado ao responsável do grupo, Michael Miller, distribuído por todos os funcionários da News Corp, Emily Townsend acusou os jornais da empresa de tentarem promover uma ideia infundada de que os incêndios que assolam o país há meses têm origem criminosa.

“Tenho sentido um impacto severo da cobertura das publicações da News Corp relativamente aos fogos, especialmente a campanha de informação falsa que tem tentado desviar a atenção do problema real das alterações climáticas, destacando a questão de fogos postos (muitas vezes deturpando factos)”, escreveu no email.

A mensagem, divulgada pela imprensa australiana, foi removida dos servidores do correio da News Corp uma hora depois de ter sido enviada.

“Considero inconcebível continuar a trabalhar para esta empresa e saber que estou a contribuir para a disseminação de negações e mentiras sobre as alterações climáticas”, escreveu Townsend, que trabalhou na News Corp durante cinco anos.

“As notícias que vi no The Australian, no The Daily Telegraph e no Herald Sun não são apenas irresponsáveis, são também perigosas e prejudiciais para as nossas comunidades e para o nosso planeta, que precisa que reconheçamos a destruição e sobre a qual precisamos de começar a atuar”, acrescentou.

Ao jornal Sydney Morning Herald, Townsend lamentou que o email tenha sido divulgado, mas reiterou e defendeu o conteúdo.

Imagens falsas ou antigas, informação errada e até mapas fictícios partilhados por cidadãos, partidos políticos e celebridades têm estado a contaminar a cobertura dos fogos na Austrália divulgada nas redes sociais.

Uma investigação da ABC Austrália apontou para uma proliferação de ‘bots’ [aplicação de 'software' concebida para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão] e contas fictícias que estão igualmente a espalhar notícias falsas, incluindo a tentativa de apontar o dedo a ecologistas, nomeadamente em torno do debate sobre as alterações climáticas.

Entre a informação falsa que circula há várias imagens e notícias com a 'hashtag' #ArsonEmergency que têm inundado a rede social Twitter.

Um investigador da Queensland University of Technology (QUT), Timothy Graham, disse que cerca de um terço de mais de 300 contas que analisou e que têm partilhado publicações com essa 'hashtag' sugerem ser falsas ou automatizadas.

Uma das mais partilhadas, por exemplo, a notícia falsa de que as autoridades australianas teriam detido 200 incendiários, atacando os 'media' tradicionais por ignorarem a informação e preferirem responsabilizar as alterações climáticas.

O número total de pessoas detidas por provocarem incêndios é, até ao momento, de 24.

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