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Turismo desce na Madeira. “É precisa mais promoção e voos mais baratos”

19 set, 2019 - 07:40 • Olímpia Mairos , enviada à Madeira

O turismo é a alavanca económica da Madeira, mas os madeirenses queixam-se da quebra de turistas na ilha e dizem que alguns negócios “estão às moscas”.

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Os madeirenses são gente que sabe bem receber. Simpáticos, disponíveis e serviçais, não gostam, contudo, de exteriorizar problemas, falar de dificuldades ou até mesmo expressar desejos. O amor à terra é mais forte que tudo e a imagem que procuram transmitir é de uma “região desenvolvida e que tem tudo”.

É precisa alguma insistência e só depois de alguma conversa aceitam falar, mas a condição é que não sejam abordadas questões políticas.

Na Ribeira Brava, Sandra tenta convencer um grupo de turistas, que vai a passar na rua, a comprar uns “paninhos de cozinha, típicos da Madeira”.

“Temos estes paninhos aqui, em promoção. Um é dois é cinquenta, cinco são dez euros. E têm todos as imagens da Madeira. É uma boa recordação para levarem para o continente”, explica a comerciante que não conseguiu convencer os turistas.

“O negócio está mau. Há dias que ficamos às moscas”, diz à Renascença.

Paula está por perto e confidencia que “a esperança reside, agora, no mês de outubro”.

“Este verão sentimos muito a falta dos emigrantes da África do Sul e da Venezuela e o negócio ressentiu-se, mas acredito que a partir do meado do próximo mês teremos mais franceses e até espanhóis e ingleses, porque as agências costumam fazer campanhas especiais”, afirma.

Para esta comerciante da Ribeira Brava é necessário captar mais turistas e para alcançar esse objetivo é preciso reduzir o preço das viagens de avião. “Se nós tivéssemos voos mais baratos, tínhamos mais portugueses e mesmo mais estrangeiros”, declara.

Entramos em mais um comércio e as queixas repetem-se. “O negócio está muito mau. A Madeira tem perdido qualidade de turismo, porque antes tínhamos muitos brasileiros, espanhóis e emigrantes e, neste momento, praticamente não vêm para cá”, desabafa Patrícia.

A explicação pode estar “no preço dos voos e também na falta de promoção do destino, porque também os cruzeiros diminuíram e estão a aumentar para Lisboa”, diz.

“Os turistas, hoje, chegam com o dinheiro contado”

No restaurante junto ao mar, apesar de a hora ser de almoço, as mesas estão quase vazias. Alguns turistas ainda chegam a olhar a ementa, mas acabam por ir embora. O sentimento de Antónia é de deceção. “Este ano o verão foi mau. Tivemos muito menos turistas”, diz.

“É dos turistas que vivemos e se não puserem aqui voos low cost, como nos Açores, não sei o que vai ser da nossa vida”, lamenta.

Flávia, uma comerciante de bijuteria, não se queixa da falta de turistas, mas da falta de consumo.

“Os turistas vêm, mas não consomem. Apenas tomam um cafezinho, porque já saem do hotel com o pequeno almoço e o programa delineado e, em termos de souvenires, levam um íman e pouco mais”, diz, acrescentando que “os turistas, hoje, chegam com o dinheiro contado”.

Flávia também considera que “a Madeira precisa de ser bem promovida e de oferecer voos mais baratos”.

“A Madeira é uma ilha cara e os turistas escolhem outros locais mais baratos. Precisamos de voos mais baratos e também de viagens de barco, porque temos capacidade de oferta e a economia local depende do turismo”, considera a comerciante.

No Funchal os restaurantes estão a apostar em ementas mais baratas à hora de almoço. Muitos até oferecem o aperitivo. É uma forma de atrair mais turistas e realizarem negócio. “Tem que ser. Precisamos de fazer negócio”, diz Carlos, frisando que “este verão foi mau”.

Os dados da Direção Regional de Estatística (DREM) indicam que em julho o turismo da Madeira registou uma descida de 2,7% nas dormidas, para as 816 mil, e uma quebra de 4% nas receitas totais, para os 41,1 milhões de euros, face ao período homólogo.

No acumulado do ano registaram-se quebras nas dormidas e nos proveitos totais que chegam a 2,5% e 4,7%.

Nos mercados emissores destacam-se descidas de 16,4% na Grã-Bretanha e de 2,6% e na Alemanha, enquanto que em França assistiu-se a uma subida de 3,3%.

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