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Vivo sozinha e isolada e depois? “Esta velha aqui anda rija como o ferro”

05 dez, 2019 - 07:00 • Liliana Carona

Em Portugal há 41.868 idosos sozinhos e isolados, sinalizados pela GNR, no âmbito da operação Census Sénior 2019.

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Luciana, a idosa que vive sozinha e isolada, mas feliz
Luciana, a idosa que vive sozinha e isolada, mas feliz

Trata a GNR por tu e é com dois beijinhos que cumprimenta os militares. Luciana Braz faz parte do grupo de 41.868 idosos sozinhos e isolados, sinalizados pela GNR, no âmbito da operação Census Sénior 2019.

Mas Luciana não se incomoda com o isolamento. Aliás, o Natal, podia ser na casa da filha, na Figueira da Foz, mas ela prefere ficar na aldeia, porque lá, junto ao mar, “não se vê nem um porco nem uma galinha”.

O distrito da Guarda é a seguir ao de Vila Real, o distrito com mais idosos a viverem sozinhos e isolados e é no distrito da Guarda, numa pacata aldeia, longe dos grandes centros, que encontrámos Luciana.

“Bom dia”, sorri, ao avistar o carro da GNR que estaciona à porta da sua casa. Aos 84 anos, desimpedida no andar, Luciana cumprimenta os militares que conhece, com dois beijinhos e trata logo de adiantar que se encontra bem.

“Esta velha aqui anda rija como o ferro. Sacho, cavo, semeio as minhas batatinhas, tomates, pimentos... Já apanhei 800 quilos de azeitona, 400 quilos cada saca, sozinha”, reforça.

Luciana vive sozinha e isolada, correto? “Pois vivo. E quem cá vem tem a vida e não tem vagar de aturar quem cá está. A filha está casada na Figueira da Foz, o filho trabalha nas obras. E os militares fazem uma ronda aos velhos, porque podemos adoecer, morrer”, afirma, interrompida pelo Tareco, o gato que lhe salta para o colo. “Este come primeiro que eu, porque é com quem converso e me distraio”, conta à Renascença.

Mas quem visita Luciana com regularidade é o militar da GNR, o Cabo Costa, da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário (SPC) do Destacamento Territorial de Gouveia. “Portas sempre fechadas, não assinar nada, só falar a quem conhece”, alerta o militar, já no interior da casa de Luciana.

GNR explica regras de segurança à idosa Luciana
GNR explica regras de segurança à idosa Luciana
Luciana ficou viuva há 5 anos e este ano não vai passar o Natal à casa da filha. Prefere ficar na sua casa.
Luciana ficou viuva há 5 anos e este ano não vai passar o Natal à casa da filha. Prefere ficar na sua casa.
Luciana Braz vive sozinha e isolada, mas diz que é feliz
Luciana Braz vive sozinha e isolada, mas diz que é feliz
Luciana trata tu cá tu lá os militares da GNR
Luciana trata tu cá tu lá os militares da GNR

Apesar de viver sozinha e isolada e com o Natal à porta, Luciana, do seu metro e meio de altura, diz que este ano não quer ir passar a Consoada na casa da filha, que vive na Figueira da Foz. “Não quero ir, porque a Figueira é muito linda, mas lá não há um porco, não há uma galinha, não há um gato, não há um cão, está uma pessoa sempre isolada, se vou para a Figueira morro mais depressa”, refere.

E na sua casa, para espantar a solidão da noite, Luciana pensa em letras que de dia transforma em música. “À noite, pensei porque sou só eu que aqui fiquei? E decidi arranjar uma cantiga para o meu marido que partiu há 5 anos: Uma casa velhinha que o meu marido me deixou”.

Na operação “Censos Sénior 2019”, a GNR, sinalizou 41.868 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, em razão da sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar a sua segurança em causa.

O Capitão de Infantaria, Daniel Fernandes, comandante do Destacamento Territorial da GNR de Gouveia, considera, embora sem certezas cientificas, que “a tendência é para aumentarem estes números de isolamento e solidão, até porque temos uma população cada vez mais envelhecida e também porque há uma maior sinalização destes casos, com a criação de equipas de policiamento de proximidade com dois ou três militares dedicados, por concelho”, sublinha.

Antes de saírem da casa de Luciana, os militares da GNR desejaram um Feliz Natal a Luciana e dela receberam um convite. “Voltem cá para levar filhoses e couves sem químicos”.

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  • Tânia Santinho
    07 dez, 2019 Gouveia 06:11
    Doscordo com o coração desta notícia! Realmente a minha avó mora sozinha mas não isolada. Quase todos os dias alguem a vai visitar. Tem pessoas em volta dela que gostam dela. Infelizmente e por motivos de trabalho não conseguimos estar mais presentes! Acho que esta notícia foi criada mais ums vez de modo a aumentar o número de audiências
  • Conceição
    06 dez, 2019 Guarda 09:54
    É pessoas destas que nos dão coragem para continuar em frente. Um feliz Natal para esta senhora e para todos os ouvintes da Radio renascença

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