05 dez, 2019
Não há dúvida que a preocupação com as alterações climáticas se generalizou a grande parte da opinião pública mundial e esse é um passo positivo no sentido da criação de condições que permitam a limitação, em níveis ainda aceitáveis, do aquecimento da atmosfera.
Mas também é verdade que acompanhando as mensagens destinadas a informar a opinião pública dos riscos que terá para a Humanidade o prosseguimento da rota seguida nas últimas décadas, surgem veiculadas muitas vezes (em particular nas televisões) ideias e imagens de que a mudança se deverá fazer revertendo a actividade produtiva à situação pré-revolução industrial, com eliminação das tecnologias modernas.
Deixar passar este tipo de mensagens sem as denunciar como profundamente negativas é inaceitável. Voltar, por exemplo, a sistemas agrícolas tradicionais, poderia implicar a morte, por subnutrição, de milhões (ou até de milhares de milhões) de pessoas em tudo o mundo. A situação alimentar mundial é muito frágil: não só persiste um nível inaceitável de subnutrição em vastas zonas do Globo, como qualquer perda de colheitas que seja generalizada causa perturbações mundiais no custo dos alimentos que são especialmente penalizantes para as classes de menores rendimentos.
Também a adopção de tecnologias artesanais em vez das industriais teria efeitos devastadores semelhantes.
Não precisamos de menos tecnologia e muito menos de voltar atrás. Pelo contrário, precisamos de mais tecnologia. Simplesmente, esta tem que se concretizar em processos que substituam as tecnologias poluentes do passado. Já temos avanços importantes na produção de energia e na sua utilização e também noutros domínios. Para além do estímulo à investigação de novas tecnologias que sigam no mesmo sentido, o esforço deve estar em estabelecer formas de organização social e económica que permitam uma mais rápida introdução dessas tecnologias. Acenar com o regresso a paraísos pré-industriais que nunca existiram, a não ser nos romances, só irá atrapalhar.