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Fruta ao pequeno almoço? É preciso "educar o paladar"

26 nov, 2019 - 12:13 • Marta Grosso

Estudo revela que maioria das crianças bebe leite e faz a primeira refeição do dia em família. A Renascença falou com Madalena Nunes Diogo, promotora da conferência sobre alimentação infantil que decorre esta terça-feira em Cascais.

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O que comem as crianças portuguesas? O tema está em debate em Cascais, numa conferência onde participam especialistas de várias áreas e representantes da Direção-geral da Saúde e do Ministério da Educação.

De acordo com um estudo sobre o pequeno-almoço das crianças portuguesas, a fruta é o alimento menos consumido: menos de um quinto diz ingerir este alimento na primeira refeição do dia.

Isto, apesar de muitas afirmarem que é um dos seus alimentos preferidos. “Faz-nos questionar”, diz Madalena Nunes Diogo, diretora-geral da revista “Estrelas e Ouriços”, que promove a conferência dedicada à alimentação infantil.

“Fizemos um pequeno escrutínio em algumas escolas e conversámos com as crianças de forma muito informal e a grande maioria falava muito da fruta como sendo dos alimentos que mais gostava, mas sempre no âmbito de almoço e jantar”, acrescenta.

Ouvida pela Renascença a propósito da 2ª Conferência Estrelas & Ouriços, que decorre nesta terça-feira na Casa das Histórias Paula Rego (Cascais), Madalena Nunes Diogo considera que já existe uma consciência elevada sobre educação alimentar. Falta agora educar o paladar.

“A todos nós sabe sempre melhor, se tivermos essa norma, comer algo doce ou salgado. A grande luta é que esse paladar seja alterado”, destaca.

A propósito de lanches – a grande dor de cabeça dos pais no que toca à alimentação dos seus filhos – a diretora-geral da “Estrelas e Ouriços” considera que, “quando há uma autonomia de escolha, esse paladar já tem de estar por ele próprio incutido para que não procurem tanto [outros alimentos menos nutritivos] e isso cria-se nos miúdos mais novos”, salienta ainda.

“Acho que a consciência existe ao nível das crianças e pré-adolescentes sobre o que é errado e certo. Falta o resto e acho que o resto passa por essa educação de paladar e por essa aptidão”, insiste.

Maioria das crianças já não chega à escola sem pequeno-almoço

São boas as notícias que chegam do último estudo sobre a alimentação dos mais novos: a quase totalidade das crianças inquiridas toma o pequeno-almoço todos os dias e em casa.

O estudo foi realizado pela empresa Keypoint, no âmbito dos 20 anos do programa de educação alimentar desenvolvido pelo Ministério da Educação, em parceria com uma marca de alimentação infantil.

Segundo a pesquisa, 99,6% das crianças toma o pequeno-almoço todos os dias, 95% das quais em casa e 90,5% com companhia.

Além disso, em 82% dos casos, as crianças são envolvidas na escolha daquilo que vão comer, sendo que 53% não participam na sua preparação.

O leite é o alimento mais consumido ao pequeno-almoço pelas crianças entre os 3 e os 10 anos (57,2%), seguido pelo pão (47,2%) e os cereais (31,3%).

Menos de um quinto das crianças inquiridas (17%) consome fruta ao pequeno-almoço.

“Apesar de tudo, as crianças portuguesas comem de uma maneira que eu diria equilibrada quando comparamos com outros países desenvolvidos”, considera à Renascença Madalena Nunes Diogo.

Pediatras, psicólogos e nutricionistas discutem alimentação

O estudo sobre o pequeno-almoço das crianças portuguesas serve para “abrir o apetite” ao debate na casa das Histórias Paula Rego – o primeiro de um evento comemorativo do programa "Nestlé – por crianças mais saudáveis", que há 20 anos leva às escolas, em conjunto com o Ministério da Educação, informação sobre nutrição e sobre as melhores formas de nos alimentarmos.

“Estamos a falar em mais de três milhões de crianças que acabaram por estar impactadas por este programa ao longo destes 20 anos e de facto percebe-se que vai tendo algum efeito ao nível das crianças, pelo menos pela sua perceção”, afirma a promotora do debate.

“É com este pontapé de saída que vamos fazer a conversa nesta conferência”, onde vai estar representado “o ponto de vista e as estratégias das instituições – que no fundo acabam por ter um papel fundamental nesta nossa educação geral”, mas também de especialistas.

Do lado institucional, participa Rui Lima, responsável pela educação alimentar do Ministério da Educação, e Miguel Arriaga, chefe da área de literacia, saúde e bem-estar da Direção-geral da Saúde.

“Vamos tentar perceber qual a sua estratégia, que ações as instituições têm pensadas e em campo”, refere Madalena Nunes Diogo.

Do lado dos especialistas, o pediatra Mário Cordeiro é um dos oradores. “Vem falar um pouco do dia-a-dia, do que acontece na realidade nas famílias”.

Há dificuldades e dúvidas transversais às famílias e há erros comuns “que, de alguma forma com facilidade podemos colmatar, sabendo deles antecipadamente”.

O evento conta ainda com a participação de um diretor de agrupamento de escolas – “o ponto de vista de um professor que tem outros desafios” – da psicóloga infantil Rita Castanheira Alves e da nutricionista Helena Real, em representação da Associação Portuguesa de Nutricionistas.

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