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Sínodo da Amazónia

Museu da Consolata acolhe exposição temporária sobre os índios Yanomami

15 out, 2019 - 16:18 • Teresa Paula Costa

Exposição inclui fotografias tiradas em 1999 na missão Catrimani dos missionários da Consolata, na Amazónia, e pode ser visitada até 19 de novembro.

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A produção artesanal da mandioca, a caça, o banho diário no rio, a ida às plantações, a preparação da comida e do reduzido vestuário que usam são alguns dos momentos do quotidiano dos índios Yanomami apresentados numa nova exposição temporária no Museu da Consolata - Arte Sacra e Etnologia, em Fátima.

Inaugurada há uma semana, a exposição inclui fotografias tiradas em 1999 na missão Catrimani, dos missionários da Consolata, na Amazónia.

Francisco Pedro, o fotógrafo, quis conhecer melhor esta tribo considerada “a guardiã das águas” e ali esteve durante uma semana, vivendo com os indígenas, uma experiência que assinala como positiva.

"Nós aqui temos um modo de vida um pouco diferente do que eles têm lá”, começa por revelar em entrevista à Renascença. Para além dos yanomami, o fotógrafo e jornalista já teve a oportunidade de conhecer outras tribos indígenas e revela que se sente fascinado pela cultura indígena, “pela simplicidade e pelo grande respeito que eles têm pela terra, que para eles é sagrada”.

Para os restantes, refere, "também devia ser, mas nós andamos num mundo mais do consumismo, que às vezes nos distrai um pouco do essencial”.

Um estilo de vida simples intimamente ligado com a natureza. O fotógrafo descreve que, “normalmente, os homens saem para caçar de manhã enquanto as mulheres cuidam dos filhos e das plantações”. As mulheres têm também “um ritual de ir ao banho no rio e os homens normalmente chegam ao fim do dia com a comida para a família toda”.

Ocupando uma área de cerca de 192 mil metros quadrados do Brasil e da Venezuela, a tribo viu, na década de 1980, desaparecer cerca de 20% da sua população, devido à ação dos garimpeiros. Para extrair o ouro, os exploradores utilizavam mercúrio, o que originou extensas contaminações dos cursos de água. A eles juntaram-se os madeireiros e os fazendeiros, que queriam explorar a madeira e a terra e, aos poucos, os Yanomami foram perdendo a floresta que lhes serve de casa e de sustento.

A ameaça permanece até hoje e é no combate a ela que a Igreja pode ser uma poderosa aliada. Francisco Pedro diz que gostava que, do Sínodo da Amazónia, “saísse uma linha de força que pudesse levar a que este povo fosse mais respeitado, não tão encarado como o povo ‘coitadinho’ ou pobrezinho, mas respeitando na sua identidade, na sua essência, evitando o máximo de interferências externas que os descaracterizam”.

No entanto, admite que “só o facto de o Papa Francisco ter convocado este sínodo é espetacular, porque coloca a própria Igreja a analisar-se a si própria e a analisar a forma como tem apoiado estas pessoas e, ao fazer isso, o Papa Francisco trouxe este tema para a atualidade”.

Pelo mesmo diapasão afina o Padre André Ribeiro. Missionário da Consolata que esteve na missão Catrimani, de 1993 a 1997, diz à Renascença que espera que o Sínodo “não seja mais um documento bonito que depois fica ali”. Quanto à proposta de ordenação de homens casados para a Amazónia, o sacerdote acha que "não vai resolver o problema”. Para o Padre André Ribeiro, “não é a questão de homens casados serem ordenados ou não serem ordenados, é o princípio de sermos humanos”.

“Se falamos de missionários ordenados e irmãs consagradas claro que há falta”, admite o missionário, já que “eles não podem estar em todo o lado”. Mas, contrapõe, “se como cristãos todos assumirmos a responsabilidade que cada um, consagrados ou não, religiosos ou leigos, têm, já será muito diferente”. Para o missionário, "é isso que falta".

Na Amazónia são várias as congregações que desenvolvem missão com os indígenas. Mas nem todas se comportam de maneira adequada, aponta o sacerdote.

Defendendo que evangelizar não é colonializar, o Padre André Ribeiro salienta que, tal como “quando nos referimos ao Oriente, aqui no Ocidente falamos de diálogo interreligioso e de outras culturas, com estes povos será a mesma coisa”.

Devemos aceitar “e isso é um caminho que a nossa cultura também tem de fazer, não ir impor, mas ir descobrir as sementes do Verbo que já estão lá”. Até porque, “nesta cultura, com os yanomami, eu vi os princípios básicos do nosso cristianismo”, conclui.

Embora gostasse de voltar à Amazónia, o Padre André Ribeiro reconhece que o rigor da vida na floresta não se compadece com os seus 60 anos. E vai matando saudades olhando para as fotos e para os objetos dos Yanomami agora expostos no Museu da Consolata, em Fátima. Uma exposição para explorar e visitar até 19 de novembro.
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