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​PCP condena membros do partido por “operações provocatórias” que condicionaram resultados eleitorais

10 out, 2019 - 23:36 • Susana Madureira Martins e Eunice Lourenço

Comunicado do Comité Central acusa militantes de dividirem os trabalhadores e inclui-os nos culpados pela perda de votos e deputados

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A direção do PCP acusa membros do partido de o estarem a atacar e a causar confusão e divisão nos trabalhadores e, por isso, terem culpas nos resultados eleitorais.

A acusação e condenação consta da versão integral do comunicado do Comité Central que esteve reunido, segunda-feira, para fazer a análise das eleições legislativas de 6 de outubro.

Nesse comunicado, o “Comité Central do PCP salienta a persistência na vida política nacional de traços, presentes nas eleições e respetivos resultados, inseparáveis do processo que os setores mais reacionários têm em curso para recuperar o espaço e tempo perdidos, na intensificação da ofensiva que inscreveram como objetivos e que conheceu, ainda que parcialmente, nestes últimos quatro anos, um revés de que nunca se conformaram”.

Mas continua: “um processo marcado pelo prolongado e sistemático ataque dirigido contra o PCP, em que alguns ex-membros e membros do Partido se têm inserido, pela animação de ideias e conceções retrógradas e populistas, em que se inclui o branqueamento do fascismo e do que ele representou, pelas operações provocatórias que a partir de estruturas e movimentações diversas visam dividir os trabalhadores e descredibilizar a sua luta e as suas organizações representativas de classe”.

Ou seja, o órgão máximo do PCP considera que há membros do partido que têm feito parte do ataque de que se consideram alvo.

Ao que a Renascença apurou junto de membros do Comité Central, a acusação tem vários destinatários, no quais não se inclui o líder da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, que chegou a apelar ao PCP que aprovasse ao decreto sobre a contagem de tempo de serviço dos trabalhadores. Apelo que o partido não acolheu.

Entre os destinatários estão “por exemplo”, como apontaram à Renascença dirigentes comunistas, os promotores de um blogue (quefazer.org) que faz crítica sistemática à “gerigonça”.

Nesse blogue os autores não estão identificados, mas apresentam-se como membros do PCP e, supostamente, divulgam documentos, intervenções em reuniões fechadas e discussões internas nos órgãos comunistas.

Numa das últimas publicações, é feita uma crítica aos quatro anos de “Posição Conjunta” (o acordo assinado entre o PS e o PCP).

“O grande prejuízo político para os trabalhadores da concretização da ‘geringonça’ foi permitir as ilusões e o engano do povo sobre a natureza social-democrata do Governo PS, o seu posicionamento de classe a favor do capital e o seu branqueamento”, lê-se no texto que tem por subtítulo “Sempre a favor do capital”.

Num outro texto em destaque apontam-se as tentativas de “desvios de direita” no partido. “As tentativas de destruição do PCP ou a sua transformação num partido social-democrata por dentro, são históricas e constantes”, começa o texto que lembra várias dessas tentativas e as posições de aproximação ao PS que foram defendidas para, assim, tentar acusar a atual direção de um desvio de direita.

Um outro texto critica a organização interna. “Como e no que se transformaram as reuniões do nosso partido: Sintomas de uma Doença” é o titulo do texto que se apresenta assim: “com este texto pretendemos denunciar aquilo em que se transformou o funcionamento do nosso Partido. Desde a relação da direção com os militantes, às reuniões que se transformaram em listas de metas e tarefas, pautadas por cada vez menos discussão política, aos camaradas que não são contactados porque deram frontalmente a sua opinião no sítio certo (ou seja, a célula do Partido a quem pertencem), aos camaradas que são afastados através de difamação e da calúnia um pouco por todo o país sem que a direção do Partido tenha a coragem de lhes dizer o porquê da decisão que foi tomada e por quem foi tomada.”

O mesmo artigo vai dando vários exemplos e conclui: “nada disto é uma coincidência. Este exemplo do que eram as reuniões e do que passaram a ser é apenas um sintoma de uma doença mais grave. Essa doença tem um nome: desvio de direita, oportunismo”.

A direção do PCP é, assim, profusamente acusada de “desvio de direita” que era a acusação feita pelo partido aos vários movimentos de renovação que foram surgindo nas últimas décadas.

Ainda que anónimo, o blogue já divulgado por alguns órgãos de comunicação social e até já teve direito a um artigo de condenação escrito por Francisco Louçã.

Apesar de tudo isso, as opiniões contrárias à “gerigonça” foram incomodando bastante a direção comunista, que inclusive expulsou pelo menos um militante por delito de opinião.

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