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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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E quando os juros subirem?

10 out, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os mercados financeiros confiam, hoje, na capacidade de o Estado português pagar a dívida. Os juros estão em mínimos históricos. Mas não para sempre.

Portugal pagou ontem juros em mínimos históricos (menos de 0.5%) na emissão de dívida pública a quinze anos. E a procura de títulos da dívida soberana nacional foi duas vezes e meia superior à oferta. Dias antes, a agência canadiana de notação financeira DBRS tinha subido o “rating” do Estado português. No mercado secundário (onde se transaciona dívida já emitida) os juros da dívida pública a dez anos de Portugal estão agora abaixo dos juros dos títulos espanhóis.

São indicadores da confiança que os mercados financeiros depositam, hoje, na capacidade de o Estado português pagar o que deve. E, pelo menos por agora, confiam que A. Costa, sem maioria absoluta no parlamento, conseguirá um grau razoável de estabilidade política. O que vai depender muito do entendimento que obtenha, se o obtiver, com o Bloco de Esquerda.

Mas o panorama nos mercados financeiros pode mudar por motivos fora do alcance de Portugal. Nas últimas semanas multiplicaram-se as críticas aos juros baixos e até negativos. Não que a economia internacional esteja em bons lençóis: a primeira declaração de Kristalina Georgieva, nova líder do FMI, centrou-se em alertar para o abrandamento da economia mundial. E para lamentar que não haja coordenação de respostas nacionais ao abrandamento global.

Mas os estímulos ao crescimento económico terão de vir da política orçamental, porque a política monetária, conduzida pelos bancos centrais, já atingiu os seus limites. Daí que não seja absurdo prever que, mais tarde ou mais cedo, as taxas de juro subam.

Nessa altura, a grande dívida pública portuguesa enfrentará acrescidas dificuldades, naturalmente. Por isso é imperioso que essa dívida desça mais do que desceu no governo da primeira “geringonça”. Sem jamais colocar a possibilidade de reestruturação da dívida, hipótese que assustaria os credores e levaria a subidas acentuadas dos respetivos juros.

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